Aos 25 anos, o menino que começou a pegar onda usando a tampa do isopor que o pai armazenava os peixes para vender na praia de Baía Formosa, no litoral potiguar, está a poucas baterias de se tornar o rei dos mares. A partir deste domingo, começa a contagem regressiva que pode terminar com o primeiro título mundial de um nordestino no surfe. Líder do WCT, a divisão principal da modalidade, Ítalo Ferreira garante o troféu, sem depender do resultado dos adversários, caso ganhe a etapa de Pipeline, no Havaí, a 11 e última da temporada. Ainda estão no páreo os brasileiros Gabriel Medina e Filipe Toledo, o sul-africano Jordy Smith e o californiano Kolohe Andino.
Nesta entrevista exclusiva ao Superesportes, respondida a poucos dias da estreia de Pipeline, Ítalo comenta sobre as chances de título, o desafio de ser um atleta nordestino e sua posição sobre a maior tragédia ambiental da história Nordeste. Na etapa de Peniche, em Portugal, no final de outro, na qual foi campeão, ele protestou com uma faixa preta sobre a prancha para lembrar as manchas de óleo que surgiram nas praias nordestinas. Minha prancha aqui é uma homenagem à galera lá do Nordeste, que está sofrendo com o óleo vindo do mar, então está aí uma faixa preta nela pra esse povo guerreiro, que batalha tanto por uma vida melhor. Eu sou um dos representantes deles, então estou aqui protestando contra esse desastre em nossa região”, disse na época.
Qual será o principal desafio para sair de Pipeline com esse título mundial inédito?
Estou numa posição muito boa, mas não confortável. Tem três brasileiros na briga. O Jordy também, já que teve bons resultados em Pipeline no passado. Todos têm chances e eu tenho que fazer o trabalho bem feito. Ultimamente, tenho pensando em mim mesmo e isso tem dados bons frutos. Eu não vejo mais meu adversário. Foco em mim mesmo.
Antes da perna europeia, você estava distante dos primeiros colocados. O que foi que mexeu em você para chegar à última etapa na liderança?
Eu estava muito concentrado em fazer dois bons resultados e me superar. Eu simplesmente surfei e esqueci dos adversários. Eu tava em momento muito bom, cheio de energia e feliz e graças a Deus as coisas fluíram muito bem. Um dia que eu estava em casa, vi um vídeo de um canal no YouTube falando sobre os outros os caras e literalmente me desprezando. Isso me tocou, me deixou com mais raiva.
Ao fechar essa temporada, o que você vai levar para sua vida?
O prazer de poder fazer o que mais amo e inspirar pessoas pelo mundo, seja com fé, atitudes e ministrando que com muita dedicação e perseverança todos podem alcançar os seus objetivos.
Quais os desafios de um surfista nordestino para chegar à elite do surfe mundial?
Antes era um pouco mais difícil, hoje as coisas estão bem melhores. Com a internet, as pessoas conseguem enxergar os talentos, ou seja, marcas que estão de olho em novos garotos, de qualquer parte do nordeste e passaram a respeitar um pouco mais. Conseguimos alcançar o nosso espaço, com muita garra e dedicação.
Fabinho Gouveia é um ícone do surfe nordestino e uma lenda brasileira. Já podemos considerar Ítalo Ferreira como maior de todos os surfistas da região?
Difícil me colocar nesse lugar, mas eu sou muito grato de poder fazer parte desta história junto com o Fábio Gouveia e vários outros atletas do Nordeste que com tão pouco conseguem mostrar ao mundo sua força. Feliz eu fico quando vejo crianças começando a surfar e seus pais na praia filmando e apoiando. Coisa que no passado era difícil de acontecer com todo o preconceito que o surfe sofria. Hoje conseguimos mudar essa imagem, e o esporte ao ganha mais força no passar dos anos.
O menino que “surfava” na tampa do isopor do pai pescador imaginava chegar tão perto de um título mundial?
Sempre tive sonhos, sempre corri atrás, e hoje graças a minha fé e perseverança vivo em um momento incrível da minha carreira independentemente do resultado. Hoje o mundo me conhece, sabe o quanto eu sou capaz e o mais importante: faço com muita alegria.
Você tem o mar como seu habitat natural. Como foi ver as praias do Nordeste sofrendo com a maior tragédia ambiental do Nordeste, sobretudo você que tem família que dependia da pesca?
Infelizmente, acompanhei tudo de longe e recebi algumas mensagens e me pronunciei quando venci em Portugal, podendo assim chamar um pouco mais de atenção das autoridades, em vez de apontar o dedo para A e B se reunir e solucionar o problema em primeiro lugar. Difícil de entender as pessoas, elas julgam e depois tentam resolver. Só que, às vezes, pode ser tarde demais! As pessoas locais se ajudaram na maioria dos lugares, o governo enviou tropas para limpar praias só que acabou passando do ponto. Eu espero que coisas como essa sejam prioridade. É a natureza que está em risco, nós precisamos dela pra viver.
O ranking
Surfista País Pontos
1. Ítalo Ferreira Brasil 51.070
2. Gabriel Medina Brasil 50.005
3. Jordy Smith África do Sul 49.985
4. Filipe Toledo Brasil 49.145
5. Kolohe Andino Estados Unidos 44.665
Os cenários
= Se Ítalo Ferreira vencer, ele é campeão mundial
= Se Ítalo Ferreira ficar em 2º, Gabriel Medina ou Filipe Toledo precisam vencer a etapa para ser campeão mundial
= Se Ítalo Ferreira ficar em 3º, Gabriel Medina precisa ficar em 2º para ser campeão mundial
= Se Ítalo Ferreira ficar em 3º, Filipe Toledo ou Jordy Smith precisam vencer para ficar ser campeão mundial - e Gabriel Medina não pode chegar à final
= Se Ítalo Ferreira ficar em 5º, Gabriel Medina precisa ficar em 3º; Filipe Toledo em 2º; e Jordy Smith vencer a etapa para ser campeão mundial
= Se Ítalo Ferreira ficar em 9º, Gabriel Medina precisa ficar em 5º; Filipe Toledo em 3º; Jordy Smith em 2º; e Kolohe Andino vencer a etapa para ser campeão mundial
= Se Ítalo Ferreira ficar em 17º ou 33º, Gabriel Medina ou Filipe Toledo precisam terminar em 9º; Jordy Smith em 5º; e Kolohe Andino em 2º para ser campeão mundial