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'Recifense', Guto fala da carreira, cita propostas para sair e convicção em acesso do Sport

Em entrevista exclusiva ao Superesportes, técnico lembrou do início da carreira de técnico aos 16 e de jogador de vôlei e dos bastidores do Leão

postado em 04/10/2019 17:00 / atualizado em 04/10/2019 17:38

<i>(Foto: Thamyres Oliveira/DP)</i>
Com pouco mais de sete meses no comando do Sport, Guto Ferreira já está bem acostumado com a vida no Recife. Descendente de italianos, o paulista de 53 anos recebeu o Superesportes e falou sobre diversos temas, como o início de sua vida como treinador aos 16 anos, sua trajetória como técnico profissional, suas inspirações e de sua vontade de cumprir contrato no Leão, mesmo com o telefone “tocando várias vezes” de outros clubes. Além disso, falou da relação com a família, do gosto pela culinária pernambucana, em especial, por caldinho e, curiosamente, confidenciou quase ter sido atleta de outra modalidade: o voleibol. 

Natural de Piracicaba, no interior de São Paulo, Guto Ferreira rodou por diversos clubes e locais do país em sua carreira profissional. Com passagens por Ponte Preta, Chapecoense, Bahia, Internacional e, agora, no Sport, ele não esquece de suas raízes, uma vez que parte de sua família ainda mora na cidade, que fica a 158 quilômetros da capital paulista.  

“A família fica em Piracicaba (SP). Na realidade a maioria da família. Minha esposa e um dos filhos em Piracicaba, outro filho faz faculdade em Belo Horizonte (MG) e meu filho mais velho cursa direito. Aqui sou sozinho. Minha família é a equipe técnica, os funcionários do clube e os jogadores. Sou muito caseiro. Sempre que tem uma folga mais longa, vou para Piracicaba. A saudade bate, né?”, contou. 

A carreira no esporte começou bastante, mas engana-se que a primeira modalidade em que Augusto Sérgio Ferreira se destacou foi o futebol. O atual treinador do Leão quase teve outro destino que não o esporte bretão, pois aos 13 anos, começou a trajetória como jogador de voleibol, uma alternativa ao futebol, pois não passava pela cabeça do jovem largar a família para tentar o sucesso.

“Minha vida toda foi esportes. Não fui jogar profissionalmente por dois motivos. Primeiro, o talento não era tudo isso. Jogava futebol o dia todo e jogava no final de semana dentro das equipes amadoras da minha cidade, de sub-13, sub-15, sub-17, em uma estrutura um pouco diferente do que é hoje. Naquela época era muito difícil e eu também não me interessava em abandonar a família e tentar a carreira no futebol. Fui bolsista e por incrível que pareça fui atleta de outra modalidade. Fui atleta semi-profissional de voleibol. Comecei a treinar com 13 anos e fui até os 20.” 

Treinador aos 16 anos

A relação com o futebol se estreitou ainda mais aos 16 anos. A primeira oportunidade quando Guto assumiu o time de um colégio, na sua cidade natal. A partir daí, o técnico, que se formou em Educação Física continuou sempre ligado ao esporte, mesmo que conciliando com outras ocupações. O comandante leonino conta que sua primeira oportunidade surgiu no XV Piracicaba, como preparador físico e que se tornou treinador no clube da cidade devido ao convite de um diretor, onde ficou até 1996.

“Aí começamos de forma mais profissional. Ficamos dois anos e ganhamos tudo dentro da região e chegamos a ser terceiro do estado. Depois fomos crescendo, 15, 17 e 20 e depois regressamos. Depois tivemos um problema duplo. Sempre que um treinador saia, eu assumia e a equipe tinha uma qualificação de rendimento. Aí vinha outro treinador e a equipe não acompanhava. Teve um diretor, já falecido, que me disse: ‘Ou você assume ou te mando embora. Como preparador físico não te quero mais, porque como treinador você é melhor do que preparador’”. 

Após a saída do clube interiorano, Guto foi contratado pelo São Paulo, onde conheceu alguns dos treinadores que viriam a inspirá-lo para o prosseguimento da carreira. “Tive o privilégio de trabalhar com alguns treinadores próximos e aprendendo com Hélio dos Anjos, Rubens Minelli, alguns treinadores bem qualificados no mercado e já tinha me dado uma luz. Fui para o São Paulo e tive o privilégio de trabalhar com Telê Santana, Muricy Ramalho, Carlos Alberto Parreira e aí vai”, disse. 

Depois que chegou ao São Paulo, a carreira de Guto não parou de crescer. Passou o ano de 1996 no Tricolor Paulista e depois chegou ao Internacional, onde ficou por quatro anos nas categorias de base e teve sua primeira chance no profissional em 2000. Depois voltou a ser auxiliar técnico por mais dois anos quando decidiu alçar vôos maiores. Passou por clubes de menor expressão do Brasil e de Portugal até chegar a Ponte Preta em 2012, onde segundo Guto, sua carreira ganhou repercussão nacional.

“Começamos a ter um destaque inicialmente na Ponte Preta. A Ponte deu uma crescida no nosso nome, mesmo trabalhado no Internacional. Foram muitos anos de Inter, mas sempre na condição de apoio. Aí saímos e fomos trabalhar fora do país e voltamos. Retornei em 2011 no Mogi Mirim. Meu trabalho apareceu e tanto que a Ponte Preta veio me buscar. No Mogi fizemos um trabalho muito bom. Começaram a nos chamar de “Trator caipira”. Foi um trabalho muito legal em 2012. Tanto que saímos da Série D para a C e pegamos a Ponte na Série A e mantivemos a equipe. Quando fomos para o Bahia, firmamos o nome no mercado. Com o acesso e o título do Nordeste”, explicou.  

E a relação do Sport? 

A contratação de Guto Ferreira pelo Sport foi cercada de expectativa. Após o começo de temporada ruim sob o comando de Milton Cruz, o treinador foi a alternativa para salvar o início de temporada e levar o clube pernambucano ao acesso, principal meta do ano na Ilha do Retiro. E assim foi, o comandante levou o Leão ao título do Campeonato Pernambucano e vem caminhando a passos largos para conduzir o time novamente para a Série A. 

<i>(Foto: Leandro de Santana/Esp. DP)</i>
Nos 226 dias em que está a frente do Sport, o treinador se tornou o profissional a ficar mais tempo no comando do clube depois da primeira passagem de Eduardo Baptista, porém, Guto não acha que possui muito tempo de clube e que, para desenvolver um trabalho bem feito, precisa do respaldo do clube, algo que lhe vem sendo dado em sua passagem pelo Recife. 

“Acho que tenho pouco tempo de clube. Estou completando oito meses. Só lamento aqueles que tiveram menos tempo que eu e agradeço a direção. As pessoas usam a palavra “sorte”, mas essa “sorte” tem todo um contexto que envolve ela. A gente conseguiu os resultados. Sem eles não estaríamos aqui esse tempo. Mas também, em alguns momentos delicados, a compreensão e convicção de quem está no comando acima. Muitas vezes suportando uma pressão desenfreada e injusta. Acredito que o trabalho que vinha sendo feio embasou para a gente dar sequência. Lamentar a saída deles e agradecer o trabalho que nos proporcionou, de certa maneira até rápida, atingir o mínimo que nos desse de seguir melhorando. Estamos numa constante crescente conseguindo o crescimento da equipe, atingindo alguns resultados e direcionando o nosso caminho ao destino final.”

“Eu acredito que em novembro estaremos com o objetivo conquistado. É jogo a jogo. Certeza é só em dezembro, mas eu tenho convicção. O título é um caminho a mais. O título hoje não depende só de nós.” 

Assédio da Série A  

O bom trabalho no Sport já mostra os efeitos na carreira do treinador. Com o começo da dança das cadeiras na Série A, Guto afirma que já recebeu convites para treinar outras equipes - a última delas o Ceará, nesta semana, mas mantém seu pensamento em dar continuidade ao projeto desenvolvido no Leão. 

“Já tocou o telefone várias esses ano de vários clubes diferentes, mas não saímos porque acreditamos no projeto do Sport e queremos realizar o trabalho no Sport. Acredito que está dando certo. Eu acredito que em novembro estaremos com o objetivo conquistado. É jogo a jogo. Certeza é só em dezembro, mas eu tenho convicção. O título é um caminho a mais. O título hoje não depende só de nós.”