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Técnico da base do Sport mostra ideias modernas e rouba a cena em entrevista

Junior Câmara defende jogo ofensivo, cita artigo e exalta filosofia do clube

postado em 03/04/2017 23:15 / atualizado em 03/04/2017 23:20

Ricardo Fernandes/DP
Após o empate com o Salgueiro, foi a vez do técnico Junior Câmara roubar a cena. O treinador do sub-20 do Sport mostrou o conhecimento que o fez montar o time com um esquema moderno atuando com a bola no 3-4-3, como o Chelsea costuma se apresentar, por exemplo. Habilidoso e claro na suas colocações, o comandante da base leonina deu uma longa explanação sobre futebol e convicções, citando livros, artigos e exaltando uma proposta tática ofensiva em que quer gerar espetáculo aos torcedores. Confira abaixo as avaliações na íntegra. 

Agradecimento ao clube e missão cumprida

“Agradeço ao clube pela confiança. Não é qualquer dia que se deixa um sub-20 jogar contra o Salgueiro. A missão foi dada e cumprida. Fizemos uma belíssima partida. Começamos retraídos e é normal. Tomar um gol contra e recuperar é difícil, ainda mais para um sub-20, mas vi uma equipe equilibrada. O tempo todo querendo ganhar. Acho até que o terceiro gol iria sair antes da expulsão. O Sport vai colher muitos frutos. É uma base muito boa que o Sport tem.”

Jogo ofensivo

“Existem ideias mais ricas ou mais pobres. O que me fez ser treinador é ver um futebol que tinha identidade clara. E o que eu penso de jogo é buscar o ataque. Meu time ataca com os dois laterais ao mesmo tempo. Existe variação tática até com um único jogador, fazendo a situação de zagueiro e volante ao mesmo tempo. Os meninos entenderam perfeitamente e eles conseguem assimilar isso. Futebol é arte. Não é guerra nem ciência exata. Tenho que trazer o torcedor e fazer ele sair satisfeito, e tenho passado isso para os atletas. Ano passado, fizemos 24 gols (Copa do Brasil Sub-17) e tivemos quatro atletas na seleção brasileira. Torcedor se acostumou a vir buscar resultado e ver bom futebol. Ver um gol daquele de Fábio paga o ingresso.”

Copa do Brasil (estreia nesta quarta contra Figueirense, na Ilha)

“Temos duas dificuldades. Recuperar esses atletas. Já está em cima do jogo, menos de 48 horas e a base do Figueirense joga pelo resultado. Quase não revela atletas para o time principal. (Rogério)  Micale mesmo, foi campeão ganhando com um time forte fisicamente e com vitórias por um a zero, e dá certo isso se você focar em títulos. Mas quais deles estarão à disposição do time principal? Na minha opinião, o Sport está certíssimo em não valorizar resultado. É pra isso que serve o sub-20. É para colocar em campo em jogar e o Ney Franco pôde ver isso. Mesmo que a gente perca ou ganhe do Figueirense, a gente está ciente de que todos os jogadores podem ser utilizados no profissional.”

Expulsão de Wallace

“Eu conheço o atleta. Se fosse qualquer outro, estaria desconfiado. Não vejo o Wallace com essa capacidade. Ele ficou surpreso com a expulsão. Houve um enrolar de pernas ali e de repente pode até ter quebrado. É um dos únicos que não posso ser cobrado por isso. Eles são muito competitivos. Wallace é calmo e quieto e nunca teve um momento de indisciplina no clube. Foi um acidente de trabalho.”

Avaliação do empate através de artigo

“Engrandece demais. Tenho um artigo que diz que um jogo de qualidade equivale a 200 treinamentos. Um jogo de qualidade vale mais que quatro a cinco meses de treinos. Nesse momento, eles já não são mais os mesmos de antes da partida. Cresceram cinco meses em 90 minutos. A média de amadurecimento de um menino de futebol é de 20 anos, mas no Nordeste ela sobe para 26/27 anos. Temos essa defasagem. Falta regularidade com competição. No Sul e Sudeste, os atletas disputam constantemente outros campeonatos, jogam até na Europa contra grandes clubes como Real Madrid e Bayern (de Munique). Nós aqui, com todo respeito, mas vamos jogar contra o time do Ibura e ganhamos de 20 a 0. Não é parâmetro. Por exemplo, o Augusto, do Campinense, veio se destacar com 26 anos, mas poderia ter amadurecido antes. Esse tipo de jogador só amadurece com 26, 27 anos e nós temos tentado antecipar isso aqui no Sport.”

Fábio e Juninho

“Antes da tática e da técnica, futebol pra mim é mais que isso. É um jogo mental. Fábio e Juninho são extremamente competitivos. No treino, eles não se permitem perder e nós não podemos tirar deles a audácia e a ousadia. Futebol brasileiro se faz disso e estamos aqui para isso.”

Juninho

“Juninho consegue ser um atacante e um meia ao mesmo tempo e isso é difícil ver aos 17 anos. Começou como atacante e vindo buscar bola no meio, fazendo os dois laterais virem buscar também. Tem uma percepção interessante. O que fazer com um jogador desses? coloco ele de referência e mando vir jogar buscando bola, flutuando no meio de campo também.”

Fábio

“É mais maduro, tem três anos a mais que o Juninho e hoje está num patamar diferente e consegue chamar a responsabilidade. Na concentração, antes do jogo ele veio falar comigo e disse ‘professor, deixa comigo que eu vou organizar os meninos’. Eles têm personalidade e eu gosto disso. Às vezes vão ter indisciplinas, mas nós estamos aqui para disciplinar eles. “

Demais destaques do time

“Fora esses (Juninho e Fábio), não posso deixar de ressaltar o coletivo. Sabia que o Índio se sairia muito bem. Ele tem muita força física e mostrou isso até o final do jogo, quando conseguiu disputar uma bola de igual contra o jogador do Salgueiro e quase conseguiu fazer um gol no final.

Pedro Vítor é muito forte e vai e volta. Começou como atacante e eu pedi para fazer o papel da amplitude na lateral. Expliquei para ele que hoje no futebol não existe mais a situação de posição fixa em campo, e ele fez muito bem.

Chico lembra muito Durval. Não é rápido, mas tem tempo de bola e uma qualidade no passe que muitos meias por aí não têm.

Caio tem 17 anos e também fez uma grande partida. O nosso time não é um sub-20 que acabou de fazer os 20 do limite. Tem muitos meninos de 17 anos.”