Santa Cruz

CAMPEONATO PERNAMBUCANO

Crônica de uma final vista do lado de fora do estádio

Sem torcida dentro do Arruda, Mundão foi palco de final diferente

postado em 06/08/2020 11:48 / atualizado em 06/08/2020 15:18

(Foto: Paulo Paiva/DP Foto)
Foi estranho. Difícil explicar a sensação de acompanhar uma final de campeonato do lado de fora do estádio. Não era só o Arruda que estava vazio. As ruas ao redor, também. Vazio necessário para a decisão do Pernambucano disputada durante uma pandemia. Aglomerações, claro, desta vez não seriam bem-vindas. Por isso, não é uma lamentação. Mas é impossível não achar que ficou faltando alguma coisa.
 
Cerca de duas horas antes do início da decisão, as buzinas insistentes dos carros e das motos que passavam na Avenida Beberibe eram a única manifestação da torcida do Santa Cruz. Na frente da sede, junto à grade, um homem trouxe faixas de campeão (do Santa Cruz) para vender. "Campeão invicto. Eu já sabia", dizia o produto. Do outro lado da rua, outro comerciante tinha bandeiras tricolores.
 
A reportagem do Diario flagrou uma aglomeração de cerca de 100 pessoas na frente da sede de uma facção organizada que usa as cores do Santa Cruz. Havia uma equipe da Polícia Militar por perto e outra entrando na casa. No exato momento em que passávamos pelo local, um policial sacou uma arma e apontou para o motorista de um carro que estava cerca de 30 metros à nossa frente, o obrigando a descer do veículo. 
 
Perto dali, na Rua das Moças, cerca de dez pessoas aguardavam, na calçada de um prédio localizado quase na frente do portão de veículos do Arruda, a passagem do ônibus trazendo a delegação coral para dar as boas-vindas. Mas a espera foi frustrada. Os jogadores concentraram no próprio Arruda. 
 
Em frente a um posto de combustíveis da Avenida Beberibe, tradicional ponto de encontro da torcida do Santa Cruz antes dos jogos, aproximadamente 15 pessoas estavam reunidas no local. Mas assim que o jogo começou, o estabelecimento foi fechado, dispersando as pessoas. Com os restaurantes fechados, não houve grandes aglomerações em torno de televisões transmitindo a partida, como geralmente acontece. Mesmo assim, um pequeno bar em Água Fria reuniu cerca de dez pessoas (muita gente para o tamanho do estabelecimento). 
 
Dentro do estacionamento do Arruda, a única pista de que havia alguma coisa acontecendo no estádio era a grande quantidade de veículos estacionados no local. Tinha seguranças, bombeiros e um ou outro funcionário do clube passando. Mas não tinha nenhum barulho. Era impossível escutar qualquer coisa vindo da parte de dentro do estádio, mesmo estando a poucos metros do portão por onde entram os sócios. Tão perto, tão longe.
 
Ao fim das cobranças dos pênaltis, era possível imaginar a festa dos jogadores do Salgueiro, que reescreveram a história do futebol pernambucano. O primeiro título estadual de um clube do interior é uma daquelas conquistas que ficarão para sempre na memória. Mas o Arruda, visto do lado de fora do estádio, permanecia em silêncio.