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Mas nem sempre foi assim. Antes do brilho em ter se transformado no “Mago da Bola”, Rose, o que para muitos era impossível, fostes tratado como cachorro por muita gente. Essa é a palavra certa. Quantos “tu é um merda, cachaceiro safado” ecoavam nas arquibancadas dos estádios por onde jogasse? Ou as humilhações na família...
Acontece que ninguém sabe um terço da tua história. A tua verdadeira história. Muita gente preferiu se apegar aos julgamentos que te atribuíram. Por muito tempo, é verdade, eles te moldaram. Só que hoje, mais maduro, te escrevo para passar a limpo tudo o que ficou guardado durante esses mais de 20 anos.
Antes de entrar para o mundo do futebol, não tinha como negar: você já era o “dono” dos campinhos de São Lourenço, aqueles peladeiros craques. Mas quando o jogo acabava você ganhava bebida. A gente sabe, Mago, que aquela rotina era normal, mas que se transformou depois de uns anos. Começastes a beber de tudo e não conseguia mais controlar. E aí, naquele fatídico ano de 2003, saiu o diagnóstico: alcoolismo.
Essa é a primeira vez que você fala sobre isso abertamente. Não para dar um gostinho de 'eu avisei' a quem tanto torceu contra ti, mas porque chegou a hora de exorcizar alguns demônios. Seguir em frente.
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Por isso, nunca esqueço daquela cena. Embriagado na frente de casa, Mago, tu vistes um carro bacana passando na rua e disse: “Poxa, um dia quero ter um desse”. E numa resposta infeliz, ouviu de um familiar: “tu, cachorro, nessa cachaça tua, nunca vai ter uma coisa dessas na vida. Nunca”.
A partir dali você decidiu mudar de vida. Foi ao médico, tomou remédios por um ano e, com o apoio dos seus pais, conseguiu. Essa vitória, no entanto, foi o prenúncio de várias outras, porque você, Rose, é daquele tipo de gente que enverga, mas não quebra. O futebol também te mostraria isso.
A AGA de Garanhuns foi a tua primeira oportunidade. Também fizeste uma avaliação no Sport no mesmo ano, em 2004, mas não deu certo. No período de testes, o auxiliar do preparador físico do Sport, naquela época comandado por Hélio dos Anjos, quis bater de frente contigo. Aí já sabe: tu é magro de ruim, não é de fome não. Você foi para cima dele com uma vara, mas te seguraram. Claro que te dispensaram, né?
Na AGA, você foi a revelação mesmo com o time rebaixado no Campeonato Pernambucano. No ano seguinte, Francisco, seu empresário na época, conseguiu te colocar para fazer uma avaliação no Santa Cruz. Depois de três meses com o elenco, o técnico Roberval Davino pediu a tua contratação.
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Só que apesar do seu nome estar na boca do povo, você nunca esteve imune às polêmicas. Como se qualquer jogador pudesse curtir a sua vida como bem quisesse, menos Rosembrick. Até hoje não entendo por que te tratavam de maneira diferente. Acho que você deu ouvidos demais à imprensa. Não soube ser esperto e jogador tem que ser assim, mas você absorvia tudo que falavam de ti e queria bater de frente.
Tua passagem pelo Palmeiras em 2006, e no Sport, em 2007, foram exemplos disso. No Palmeiras, depois que você saiu de lá, o que se ouvia era: “Rosembrick, uma das piores contratações da história do clube”. Isso é conversa de quem chegou lá, bateu e voltou. Ninguém te expulsou. Foi você quem decidiu sair e teve seus motivos para isso. Claro, se fosse hoje, você teria aceitado o banco de reservas, mas se arrepender do que fez? Jamais.
No Sport, mesmo tendo conquistado o título estadual, não te reconheceram como deveria. “Esse cara não jogou um terço do que jogou no Santa Cruz”. Como se ninguém soubesse que você tinha sofrido várias lesões.
Depois desses dois últimos anos, as coisas, de fato, seguiram outro rumo, Mago. Você teve outra passagem no Santa Cruz, mas bem diferente daquela que te fez despontar. As oportunidades foram se esvaindo, a idade pesando… A tua irreverência já não era a mesma. Temos que admitir: o tempo é implacável. Mas você resiste ao último ato.
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Que ironia: aquele “cachorro” deu a volta por cima, Rose. E as pessoas que te viram naquela fase negativa e sacudiram pedras em você tiveram que ficar caladas e cruzar os braços. ‘Poxa, a gente torceu tanto para esse miserável não vencer…’.
Mas ele venceu. Nós vencemos.