Santa Cruz

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Sem efeito para 2020, Santa Cruz enxerga MP com potencial futuro para negociação em bloco

Para o diretor de futebol Fred Dias, se o novo modelo de negociação se fixar como lei, união dos clubes pode elevar patamar do futebol brasileiro

postado em 19/06/2020 17:19 / atualizado em 19/06/2020 17:31

(Foto: Peu Ricardo / DP Foto)
Desde que o Poder Executivo aprovou a Medida Provisória 984/20 na última quinta-feira (18), que altera entre os principais pontos as negociações dos direitos de exibição dos jogos, nenhum outro assunto ganhou tanta repercussão no universo do futebol brasileiro. Até mesmo o retorno do Campeonato Carioca foi ofuscado. Dirigentes, especialistas, e claro, torcedores tomaram conta do debate nas redes sociais a respeito dos riscos e vantagens que a MP pode proporcionar aos clubes. E não seria diferente no caso do Santa Cruz.

Ao Diario de Pernambuco, o diretor de futebol Fred Dias levantou o contexto do clube coral no cenário atual dos 60 dias em que a medida terá vigência. "A MP publicada fala da negociação da televisão e do contrato dos jogadores sem a necessidade de repasse do valor aos sindicato a cada mês. Além disso, o 'direito de arena' agora pode ser negociado com empresas de rádio difusão, TV aberta e TV fechada, por exemplo, que possam patrocinar os clubes agora. Antes, inclusive, corria o risco até mesmo dos clubes serem punidos com exclusão das competições se fosse o caso", comenta.

Por ter todos os direitos negociados nas competições - Pernambucano com a TV Globo, Copa do Nordeste com FOX, SBT e Live FC, e Série C com a DAZN -, ao Tricolor resta aguardar a tramitação do projeto no Congresso Nacional caso venha a se consolidar como lei, o que não deve acarretar em mudanças a curto prazo para o Santa Cruz, nem mesmo como definir futuras negociações.

"No caso do Santa Cruz, se chegar à Série B ou à Série, poderemos voltar a negociar contratos novamente, mas a gente não sabe se a lei vai funcionar até lá. Para este ano não temos expectativas porque já temos contrato com as competições que estamos disputando", Destaca Fred Dias.

"A MP vai ser tramitada no Congresso e se vai virar lei, ou não, teremos que aguardar. Antes de virar lei não temos como determinar como serão as negociações e as demandas que teremos à disposição. Existem os contratos já, e eles não vão ser modificados. Na verdade, o que existirá é a possibilidade de novos contratos, mas a depender dessa definição", completa.

E é nesse campo dos projetos a longo prazo que o dirigente encara a medida como uma possibilidade de crescimento do futebol como um todo. Para o dirigente coral, o poder de negociar um ativo particular sem a necessidade de interferência do clube mandante dará aos clubes um potencial maior de barganha junto aos compradores.

"Particularmente, acho que o fato do mandante poder negociar somente ele o direito de transmissão e ter a condição de criar blocos de negociação, juntar dez ou 15 clubes e negociar em conjunto, por exemplo, tende a dar uma força maior aos clubes. Vai mudar o patamar do futebol brasileiro você poder negociar ativos separados", destaca.

Porém, Fred Dias faz a ressalva de que para haver crescimento no poder de barganha, é necessário que os clubes evitem o pensamento individual na hora de negociar, o que pode representar um ganho maior a curto prazo, mas a longo prazo tende a desvalorizar o produto em geral.

"Agora, isso é com os clubes. A única grande grande liga da Europa que não tem esses direitos negociados em conjunto é Portugal, e até mesmo a Turquia, que tem um campeonato sem a mesma atratividade, recebe muito mais porque negocia em bloco. É preciso ter a individualidade de poder vender sozinho, mas também ter a inteligência de negociar a venda em conjunto. Com a oferta desblocada, o preço vai diminuir. É uma questão de economia", orienta.

Sem apontar exemplos, Fred também admite que há o risco de que clubes possam enveredar pelo campo da individualidade, mas estima que pelo quadro atual do perfil dos dirigentes do futebol, sobretudo no Nordeste, a tendência é de que haja um acerto coletivo.

"Eu não vou personalizar, mas existe o risco de clubes que se acham maiores que outros - e não existe isso, ninguém joga um campeonato sozinho - e que vão querer negociar sozinhos para ganhar mais. Porém a longo prazo eles também vão perder poder de barganha. Mas os dirigentes hoje têm uma tendência a uma prática de gestão mais voltada para o coletivo", completa.