A presença de mais pessoas na torcida é motivo de felicidade. Ao menos, é assim que funciona em qualquer cenário livre de preconceitos e tabus. No futebol, essa ainda é uma barreira difícil de ser ultrapassada. Após ganharem espaço de divulgação em matérias jornalisticas e redes sociais, integrantes do coletivo Coral Pride - Camisa 24, primeira torcida LGBTQI+ formada no estado, revelaram terem sido alvos de ameaças, por conta de sua orientação sexual.
“Recebemos, de pessoas próximas, relatos de ameaças e prints de conversas de grupos de whatsapp, dizendo que se a gente fosse ao jogo e botasse faixa, iriam arrancar; que se o Santa tivesse perdendo, a pessoa ia nos agredir como forma de passar raiva pelo time... Foram todos passados de grupos para nós, não chegou nada diretamente”, explicou um dos integrantes do coletivo, que pediu para não ter sua identidade revelada.
Além dessas ameaças, comentários negativos e homofóbicos também foram disparados contra a existência do coletivo. “Discursos de ódio também tiveram, já era de se esperar. Pessoas dizendo que não teria necessidade (do coletivo), dizendo que seriam motivo de chacota, porque ser LGBT é como se fosse um defeito, um problema. E tantos e tantos comentários de cunho homofóbico".
Ainda segundo o torcedor e fundador, a ideia principal de reunir esse grupo é voltada para combater o medo que sentem quando estão nas arquibancadas e sua orientação se transforma em agressão, xingamento e piada para “atingir” os rivais - cena ainda bastante comum no mundo do futebol.
Por outro lado, o coletivo também recebeu o apoio de outros torcedores corais. “Estamos tendo muito apoio e afeto. E isso me surpreendeu, e é muito maior. A gente não está só, tem muito mais gente do nosso lado que contra nós. E isso nos deixa até mais estimulados em ocupar o espaço do estádio”.
Diante desses episódios de ameaças, ele resgatou o sentimento motivador para a fundação do movimento, e reforçou o desejo de segurança para todos que ocupam seus lugares nos estádios. “O nosso objetivo principal é fazer com que LGBTs consigam frequentar o estádio de forma segura, estar no estádio sem ser vítima de violência, e que a nossa forma de amar e se orientar sexualmente não sejam motivos para que a nossa própria torcida xingue outros jogadores. E que a gente não precise esperar um gol do Santa Cruz para abraçar nosso companheiro ou companheira, porque temos medo de fazer isso em outros momentos, enquanto estamos dentro do estádio. E, também, dar mais coragem para que os outros LGBTs cheguem ao estádio e ocupem esse espaço”, complementou.
”O Santa é o time do povo, das minorias, de todos e todas. Quem refuta a criação da nossa torcida, desconhece inclusive a criação do time que torce”, refletiu.
DENÚNCIAS
Para se proteger, também com o respaldo da lei, o movimento está se programando para levar denúncias do acontecimento à Polícia e ao Ministério Público na próxima semana. O Santa Cruz também deve ser contatado pelos torcedores.
“Tudo isso está documentado, e a gente vai noticiar às instituições responsáveis, fazer denúncias e informar ao clube para que a gente possa, de alguma forma, se proteger. A denúncia vai ser feita, e no momento a gente tem como estratégia, guardar a privacidade dessas pessoas. Essa denúncia vai ser feita na próxima semana, tanto na delegacia quanto no Ministério Público, e também será encaminhada ao clube”, explicou.