Depois de meses de conversas, estudos e reuniões, a expectativa era de que fosse apenas uma questão de tempo para que o novo estatuto do Santa Cruz entrasse em vigor. Porém, menos de 24 horas do início das discussões no Conselho Deliberativo do clube, a realidade mostrou uma divisão. Na segunda-feira, o Conselho de Administração solicitou alterações no texto e a anulação da presença de conselheiros suplentes e colaboradores nas três reuniões que definirão a aprovação. Para entender os argumentos, o Superesportes falou com um dos signatários do documento, o vice-presidente do clube, Tonico Araújo.
Em uma longa entrevista, Tonico disse não ver argumentos para várias das mudanças sugeridas. Ele também ressaltou que o Santa Cruz não poderia ter uma “reforma por reforma” e criticou a participação da torcida no processo. Em sua visão, os torcedores foram “usados politicamente”.
“O Santa Cruz é um time de massa e uma coisa que eu não teria feito é convocar a torcida para estar em uma reunião de Conselho. A torcida não pode ser usada politicamente, a torcida é o maior patrimônio do Santa Cruz, é maior que o próprio estádio do Santa Cruz. Então, a forma que esse grupo (Comissão de Reforma do estatuto) fez foi através de uma falada oposição. O Santa Cruz não pode ter oposição, tem que ser de todos juntos. O Santa Cruz tem oposição em uma hora, em uma disputa de uma eleição, mas nada de ‘arenga’. O Santa Cruz não suporta arenga”, discursou.
O vice-presidente executivo exaltou ter boas relações com os dois lados de uma disputa que ele afirma existir em torno do tema, dos “jovens” contra os “antigos”. Os últimos, vale ressaltar, são a base signatária do documento, que visa mudanças na proposta da Comissão de Reforma do estatuto. Ainda assim, Tonico lembrou que a falta de comunicação é dos dois lados. Em sua visão, os mais jovens estariam tentando expurgar alguns nomes do Santa Cruz, enquanto os mais velhos seriam mais resistentes às mudanças.
“Existe uma coisa muito mal orientada, que é essa coisa de discutir os ‘velhos’ contra os ‘novos’. Não é por aí. O Santa Cruz tem um passado construído por alguns desses, que têm uma história belíssima, que tem muito a colaborar com seus pensamentos. E tem jovens que, sem dúvida nenhuma serão o futuro do Santa Cruz. Falta de cada parte buscar conversar um com o outro. São todos pessoas boas, que querem o bem do Santa Cruz. O grupo dos mais antigos do Santa Cruz também está um pouco resistentes às mudanças e isso é ruim”.
Questionado sobre uma suposta estratégia política em pedir as alterações e apresentar as discordâncias a apenas um dia do início do processo de deliberação da pauta, Tonico refutou as acusações e creditou a demora a um maior estudo que teve que ser aplicado nas propostas.
“É um processo bem demorado, foi um estudo, não foi por estratégia política, não. Foi por conta de propor um acordo com bastante discussão e respaldo legal para que não houvesse nenhuma questão de judicialização ou qualquer coisa do tipo. Se você ver quem participou, é um bocado de gente da área jurídica, que deu todo o respaldo também a esse trabalho, afora as pessoas que estavam envolvidas do Santa Cruz”.
Tonico também ressaltou discordâncias do grupo sobre alguns dos pontos defendidos no projeto corrente de reforma do estatuto do Santa Cruz.
REDUÇÃO NO NÚMERO DE CONSELHEIROS
“Se propõe a redução do número de conselheiros de 500 para 100. Então, essa proposta, eu falei com (Mário) Godoy (presidente da comissão de reforma) e disse a ele que não entenderia e pedi argumentos. Ele veio com o argumento de que a experiência do Bahia é com 50, mas isso não é argumento, isso é um número. Pedi outro argumento e ele disse que para serem 500, não teria condições de fazer reuniões no auditório que só cabem pouco menos de 250 pessoas. Aí perguntei para ele se alguma vez uma reunião do Conselho teve mais de 200 pessoas. Ele disse ‘não’. Então isso também não é um argumento. Eu não admito que se perca nenhum recurso do Santa Cruz. Se você tem 500 e, hoje, tem uma adimplência de 50%, ou seja, só 250 contribuem, com 100, se 100% pagarem, serão só 100, ou seja, o Santa Cruz vai ter prejuízo”.
PATRIMONIAL
“É uma questão que eu acho que merece ser avaliada. Meu ponto de vista é que ela deve ser independente, porque qualquer presidente que está no executivo quer utilizar os recursos da patrimonial para o futebol porque o futebol é paixão e falta muito recurso. Aí eles querem buscar no patrimonial. E se o patrimonial não tiver a independência para manter o estádio do porte do Arruda, ele vai cair”.