
SEM CLIMA
Quando se pensa em jogo de futebol, as primeiras lembranças podem ser o barulho do estádio, o cântico das torcidas, camisas de time e até mesmo os banhos de cerveja na hora do gol. Nada disso compôs a final da Copa Pernambuco. Do lado direito da arquibancada, se ouvia o som da obra de ampliação do CT para a construção de mais alguns campos. Ao fundo, logo depois do gramado, se via o treino da equipe profissional do Retrô, que, com alguns jogadores com passagens pelos finalistas, se prepara para o Campeonato Pernambucano de 2020. Mais adiante, outra obra e o treino de outra categoria dos donos da casa. Na plateia, muitas camisas sociais e quase nenhuma camisa de jogo dos finalistas. Para quem assistia o jogo, era necessário esforço para lembrar que a partida valia um título.
E na arquibancada do CT, com capacidade para 600 pessoas, nenhum torcedor de arquibancada. Ao todo 111 pessoas, contadas uma a uma pela reportagem,assistiram à decisão. Torcida formada por dirigentes, comissão técnica, alguns atletas e familiares dos dois clubes. E também por jogadores das categorias de base do Retrô. Não foi permitida a entrada de torcedores “comuns”.
O que não impediu um fato curioso. Ao chegar atrasado, com a partida já iniciada, o vice-presidente do Náutico Diógenes Braga teve a sua entrada barrada na portaria. Tudo porque o seu nome não estava “na lista”. Foi preciso um outro dirigente do clube se dirigir ao local para liberar a entrada. Além de Diógenes, estiveram presentes o técnico Gilmar Dal Pozzo, o gerente de futebol Ítalo Rodrigues e o gerente da base Carlos José.
Pelo lado do Santa também houve atrasos. O presidente Constantino Júnior e o executivo de futebol Nei Pandolfo também só chegaram ao CT do Retrô com a bola rolando. Porém, não tiveram dificuldades para entrar. Além deles, fizeram parte da comitiva coral o coordenador técnico Thiago Duarte e o diretor da base Ênio Boneco, também estiveram presentes o zagueiro Danny Morais, acompanhado dos filhos.
Dentro de campo, o jogo foi disputado. Muitas faltas e disputa pelo gol e uma vitória de virada por 2 a 1. Mas até para atletas, comissão e arbitragem, o clima acanhado gerava um ambiente diferente. Se a falta de gritos da torcida não cria um ambiente de caldeirão, a pressão sobre os jogadores toma caráter mais direto, sendo um dos poucos, quiçá o único, elemento que fazia jus a uma final em Clássico das Emoções.
Um momento em que o jogo psicológico ficou claro foi em um atendimento um pouco mais demorado a um atleta do Náutico, que fez barulhos de dor, imitados de imediato por alguns tricolores, posicionados a menos de dez metros do local onde ele estava. As provocações se estenderam ao médico, que reagiu perguntando se eles tinham cursado medicina. Ninguém precisava gritar para se fazer ouvir.
A Copa Pernambuco voltou ao calendário estadual após sete anos de inatividade. E como de costume, teve estádios esvaziados da 1ª à última rodada. Ao Clássico das Emoções menos emocionante em 102 anos de disputa. Ao final, o quinto título do Santa Cruz não é motivo de comemoração para nenhum tricolor. Fica apenas a certeza de que é preciso repensar a Copa Pernambuco. Porque pior do que está vai ser difícil ficar.