Se os resultados não vieram em campo, o alento para a torcida do Santa Cruz pode estar no que há por vir em 2019. Colocando em prática um plano de gestão implantado no início do ano, quando assumiu o clube o presidente Constantino Júnior, o Tricolor deverá, apesar da estimativa de ter a menor receita na década (abaixo da casa dos R$ 10 milhões), fechar o ano no azul depois de cinco temporadas. Seguindo o planejamento à risca, a direção promete lançar no Portal da Transparência coral, nos próximos dias, um balanço da gestão que vai de janeiro a agosto. Nos cálculos do núcleo de gestão, o clube passará a se autossustentar e a gerar lucro.
Coordenador geral do núcleo de gestão do Santa Cruz, Roberto Freire comanda uma equipe que dita o futuro do clube. Criado em janeiro, esse novo departamento administra todos os gastos do clube. Todas as decisões do futebol, inclusive, passam diretamente pelo orçamento pré-estipulado. Ao longo desta temporada, por exemplo, ficou acertado que departamento de futebol não poderia ultrapassar o teto de R$ 250 mil para o elenco e R$ 140 mil para a comissão técnica. “Evidente que em determinado momento do ano, o futebol chegou a mais. Teve meses que foi a R$ 280 mil, mas em outros meses ficou em R$ 180 mil. De forma a que a média não tenha passado do teto determinado”, explicou Freire.
Em toda temporada, o clube conviveu com um “risco calculado”. Em média com um mês e meio de atraso nos salários do futebol e sem fontes de recursos capazes a levar a um superávit no mês, o Santa Cruz viveu basicamente de financiamentos. Em janeiro, iniciou o ano gastando três vezes mais do que faturava. Ao poucos, foi diminuindo despesas. Neste mês de setembro, a conta passa a ser equânime. “Vamos chegar em dezembro pela primeira vez na história recente com o equilíbrio financeiro estabelecido. Significa que vamos ter pago todas as contas e vamos estar em dia com todo mundo do ano de 2018”, garante o engenheiro Roberto Freire.
O orçamento para o ano que vem será divulgado no próximo mês de novembro. É por isso que, sempre que questionado sobre renovação de contrato de atletas, bem como do técnico Roberto Fernandes, o presidente Constantino Júnior e os membros da cúpula de futebol afirmam sempre estarem esperando um retorno do núcleo de gestão para saber quanto poderão gastar. “O Santa era um clube que os processos gerenciais eram muito simples, não tinham detalhamento técnico apurado”, ressalta o coordenador de gestão do clube.
Dívidas
Fato que não deixa de ser surpreendente. Afinal, pelas saídas precoces em competições como a Copa do Brasil e o Estadual deste ano, o balanço financeiro do Tricolor deverá apresentar uma receita bem inferior a de 2017, que foi de R$ 15.848.541 - que por sua vez já foi 57% menor que a de 2016. No balanço relativo ao ano passado, o último da gestão do presidente Alírio Moraes, o Santa Cruz atestou um passivo de R$ 65.917.841, com aumento de 5% em relação ao ano anterior.
“Criamos um grupo para administrar os passivos mais importantes, dos quais o mais importante é o trabalhista”, afirmou Freire. Um total de 20% de toda receita que entre no Santa Cruz é encaminhada para a 12ª Vara Cívil do Recife, onde são pagas as dívidas trabalhistas do clube. Fazendo um paralelo para se ter a dimensão do tamanho da dívida coral, o Sport declarou um passivo no último balanço de R$ 183.562.095. A diferença é que o Leão recebe uma receita muito maior - em 2017, de R$ 108.746.936.
Reflexos
Como não exerceu antecipações de cotas, o Tricolor deverá colher o que de positivo plantou no início da gestão. “O Santa Cruz começa 2019 organizado, começa com o equilíbrio financeiro. Então, não vai mais ter história de atrasar salário, fornecedor”, garante Roberto Freire. Desconsiderando o provável reajuste nas cotas, o Tricolor tem como base receber R$ 500 mil pela primeira fase da Copa do Brasil. Da Copa do Nordeste, mais R$ 1 milhão - mesmo valor que o clube recebe para participar do Estadual. A Série C não gera receita alguma, senão ajuda de custos, como passagens aéreas. Além disso, o clube ainda contará com faturamento de bilheteria, patrocinadores, sócios, dentre outros.
Últimas receitas operacionais do Santa Cruz
2011 – R$ 17.185.073
2012 – R$ 13.133.535 (-23%)
2013 – R$ 16.955.711 (+29%)
2014 – R$ 16.504.362 (-2%)
2015 – R$ 15.110.061 (-8%)
2016 – R$ 36.854.071 ( 143%)
2017 – R$ 15.848.541 (-57%)
Passivo
2011 – R$ 69.775.333
2012 – R$ 71.536.863 ( 2%)
2013 – R$ 71.377.478 (-0,2%)
2014 – R$ 72.727.047 ( 1%)
2015 – R$ 77.728.805 ( 6%)
2016 – R$ 62.604.879 (-19%)
2017 – R$ 65.917.841 ( 5%)
Superávit/déficit
2011 ( 1.443.869)
2012 (-692.408)
2013 ( 453.996)
2014 (-1.766.461)
2015 (-3.388.522)
2016 (-3.861.281)
2017 (-4.605.091)