Menos de 48 horas após enfrentar o Confiança, em Aracaju, pela estreia da Copa do Nordeste, o Santa Cruz terá outro compromisso. O clube estreia desta vez no Campeonato Pernambucano, nesta quinta-feira, contra o Vitória, no Arruda. O problema é que, de acordo com o Regulamento Geral de Competições da CBF, o clube só pode mandar a campo atletas com um intervalo mínimo de 66 horas entre uma partida e outra. Apoiado pela Federação Pernambucana de Futebol (FPF), os tricolores, porém, não descartam repetir jogadores. A Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf), divergente da leitura da FPF, promete acompanhar de perto a situação e agir, caso necessário.
A Confederação Brasileira de Futebol e a Fenapaf assinaram no ano passado um acordo para regulação desse intervalo mínimo de 66 horas entre a realização de dois jogos de futebol. A decisão vem de um acordo firmado pela CBF com a Federação dos Atletas Profissionais no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de Campinas, em São Paulo.
A partir deste ano, a nova regra passou a constar no Regulamento Geral de Competições (RGC) da CBF. De acordo com o próprio site da entidade, "a não observância da regra implicará em denúncia do clube pelo artigo 214 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva" - ou seja, perda de pontos e multas que varias entre R$ 100 e R$ 100 mil.
"A Fenapaf não vai ficar satisfeita com uma violência contra a profissão atleta. O acordo está homologado junto ao Ministério Público Federal e não vejo outra saída senão denunciar o caso, caso ele ocorra, ao STJD, para a aplicação de multa", explicou o presidente da Fenapaf, Felipe Augusto Leite.
Na explicação à reportagem do Superesportes, Leite aponta dois artigos para justificar o impedimento de o atleta ir a campo em menos de 66 horas: o terceiro e o 25º do RGC. No terceiro, diz: "As entidades de prática desportiva, doravante nominadas clubes, ao participar de competições, bem como as federações estaduais, no que lhes for cabível, aderem e se submetem, automaticamente, a este RGC"; enquanto o 25º completa: "Os clubes e atletas profissionais não poderão, como regra geral, disputar partida em competições sem observar o intervalo mínimo de sessenta e seis (66) horas".
Evandro Carvalho vê brechas
Sobre os dois pontos, o presidente da FPF, Evandro Carvalho vê brechas que levam a entidade local ao entendimento de que, sim, é possível fazer os atletas irem a campo no intervalo inferior a 66 horas. Ele destaca dois pontos: no terceiro, o trecho "no que lhes for cabível" e, no 25º, a parte "como regra geral". A partir disso, o mandatário da federação estadual vai de encontro à leitura da Fenapaf.
"A 'regra geral' significa em tese, não em todos os casos. Os clubes estão sem datas e optaram por fazer os jogos (no intervalo inferior ao que manda o (RGC). É um direito deles", disse. "E 'no que lhes for cabível', ou seja, no estiver ao alcance da competição, ou da federação. Foram retirados 40 dias do calendário em razão da Copa do Mundo este ano", completou. Evandro Carvalho completou ainda afirmando que o Campeonato Pernambucano tem o seu regulamento próprio e não é obrigado a seguir o RGC da CBF.
Atletas estarão relacionados após curto intervalo
O executivo de futebol do Santa Cruz, Fred Gomes, afirmou que o técnico Júnior Gomes ainda não definiu uma escalação coral. Mas adiantou que todos os atletas que jogaram contra o Cofiança estão, pelo menos, relacionados para o jogo pelo Estadual. "A gente fica triste, mas a que condição temos é essa. Júnior vai relacionar todo mundo e ver quem joga amanhã (quinta-feira)", afirmou.
Procurando, o presidente do Sindicato dos Atletas de Pernambuco, o ídolo do Santa Cruz e ex-atacante Ramon Ramos, afirmou que caberia aos jogadores decidirem se eles gostariam ou não de ir a campo descumprindo o RGC. "Estou em contato com os jogadores para ouvir a opinião e saber a posição deles. Se eles quiserem, podem jogar ou não. Só que a maioria está querendo. Aí o sindicato não pode tomar posição sem ser solicitado pelo jogador", justificou.
Porém, o presidente da Fenapaf diverge. "É um direito indisponível aos atletas, toda venha ao posicionamento do colega", ponderou Leite. "Nosso objetivo não é prejudicar o andamento de qualquer competição, mas é pela absoluta proteção ao exercício laboral da profissão dos atletas", pontuou.