Os três anos no comando do Santa Cruz deixaram marcas no presidente Alírio Moraes. Uma gestão que foi dividida exatamente ao meio, ao menos do ponto de vista do futebol. Foram 18 meses inesquecíveis, 18 meses para esquecer. Foram dois títulos do Campeonato Pernambucano, uma taça da Copa do Nordeste e um acesso à Série A na primeira metade. Na sequência, Alírio viu o Tricolor sofrer dois rebaixamentos e se afundar em uma crise financeira.
Em tom de despedida, o presidente, durante a entrevista que oficializou a substituição na chapa da situação – Constantino Júnior será o candidato no lugar de Antônio Luiz Neto -, fez questão de tirar a visão do campo. Admitiu os erros, mas destacou que deixa um legado, sobretudo em relação ao saneamento das contas do clube.
“É um momento de grande reflexão e estamos procurando enxergar onde erramos. Esses erros ainda existem e nunca fugimos desse debate. O legado está na visão mais lúcida de quem consegue enxergar além dessa cortina de fumaça da queda. Hoje, temos um clube estruturado”, disse.
Os dois pilares de Alírio
Ao detalhar essa “estruturação”, o presidente abordou duas questões, fundamentalmente: os débitos trabalhistas e tributários. Segundo o dirigente, o passivo na Justiça do Trabalho foi diminuído.
“A dívida trabalhista podemos dividi-la em duas situações. As que estão na 12ª Vara da Justiça do Trabalho e que temos em torno de R$ 40 milhões (em dívidas). Quando assumi eram mais de R$ 70 milhões. O que atrapalha é que no passado, por vários motivos, sem fazer críticas, várias ações não foram assistidas e é uma preocupação que temos no presente. Hoje, podemos combater as reclamações. No passado, pela carência do clube, muitos prazos foram perdidos e execuções de outros estados fizeram com que não exista recurso. Por isso sofremos tantos bloqueios. Às vezes temos o dinheiro na conta e o bloqueio ocorre. Até na conta do Timemania, que não pode ocorrer bloqueio, ocorreu”, justificou.
Outra área que ele afirmou que deixará um legado para o clube é na área tributária. “Hoje, temos todo o passivo do clube tributário negociado e em torno de R$ 40 milhões. Estamos pagando mensalmente tudo que devíamos, FGTS e INSS. A minha vinda para o Santa Cruz como colaborador foi em 2013 por medidas judiciais que estavam levando o estádio à leilão. Temos valores em abertos, mas até 2016, com muito sacrifício, foram pagos. Temos condições de iniciar uma nova fase com muita tranquilidade.”
Desabafo
Para finalizar a suas explicações, Alírio desabafou. Afirmou que chegou a pensar se a sua permanência no clube era necessária, lembrou que comprometeu seu patrimônio e entende ser criticado. Só não admite que seja feito de forma injusta. “A gente vem vivendo um ano de muita dificuldade. Essa dificuldade traz cansaço, traz até a reflexão se a minha permanência era necessária. Mas penso na unidade. Todos nós dedicamos parcela da nossa vida ao Santa Cruz e isso tem sido feito com muito amor e coragem”, disse. “Não preciso falar sobre meus atributos ou qualidades. Prefiro ser julgado pelos outros, mas quero um julgamento imparcial. Não quero uma irresponsabilidade”, concluiu.