Santa Cruz

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O que vem após o rebaixamento? O futuro do Santa Cruz após a confirmação da queda

Superesportes aponta semelhanças e diferenças do cenário atual do Santa em relação ao ano do último rebaixamento sofrido na Série A do Brasileiro, em 2006

postado em 17/11/2016 10:00 / atualizado em 17/11/2016 15:13

Paulo Paiva/DP
O passado assombra o presente. Há dez anos, em novembro de 2006, o Santa Cruz tinha o seu rebaixamento para a Série B matematicamente confirmado. Começava ali um calvário que nunca será apagado da história coral. Série B, Série C, Série D. Quedas sucessivas. Nove anos longe da elite e um prejuízo incalculável, que ainda exige o seu pagamento. Parte dela está sendo cobrada agora. Nesta quarta-feira, o Santa Cruz teve o rebaixamento à Série B matematicamente confirmado. Um final melancólico, com pontos convergentes em relação à queda de 10 anos atrás.

O Superesportes voltou ao passado para reencontrar o Santa Cruz que despencaria ao fundo do poço. Encontrou semelhanças entre as temporadas de 2006 e 2016. Entretanto, também se deparou com diferenças que trazem um certo alívio. Nesse sentido, um aspecto marcante está no momento de transição das temporadas. O ano de 2006 terminou com o clube rebaixado e rachado, imerso num processo eleitoral desgastante. Naquele ano, o Santa viveu um dos pleitos mais acirrados da sua história, com o então vice-presidente, Édson Nogueira, liderando a oposição. Disputava contra Alberto Lisboa, candidato do então presidente Romerito Jatobá. Eleição polêmica, que terminou, pela primeira vez na história, com a vitória da oposição.

A transição traumática foi o ponto final de uma bola de neve que cresceu durante todo o ano. Houve uma sucessão de pecados que iam do comando do futebol à gerência das finanças que colocou o clube à beira da inviabilidade. Em 2006, 64 nomes passaram pelo elenco. Cinco treinadores comandaram a equipe. Quase metade dos jogadores da época foi dispensada durante o próprio campeonato, o que gerou uma enxurrada de ações trabalhistas e o aumento do passivo do clube.

Temporada também marcada pelos atrasos salariais. Funcionários acumularam dez meses sem um centavo na conta. Assim como aconteceu neste ano - alguns funcionários até com seis meses sem pagamento -, chegaram a paralisar as suas atividades. À base de cheques pré-datados - por vezes, sem fundos -, o elenco também ficou sem receber salários por quatro meses - um a menos que o máximo de atraso atingido em 2016. A situação fez com que os jogadores não treinassem por um dia e levou o clube a perder a custo zero peças as quais mantinha contrato.

Atolado em um emaranhado de dívidas, a Justiça não saía do pé do Tricolor. Se nesta temporada houve a retenção do repasse da Conmebol pelo avanço na Sul-Americana, das cotas de televisão da Série A e a marcação do leilão do Arruda por causa de dívidas antigas (os dois últimos casos, inclusive, devido a passivos referentes a 2006 e 2007, respectivamente), o Santa sofreu, há uma década, com a ameaça do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) por causa do descumprimento de um termo de ajustamento de conduta, firmado em 2005. A instituição solicitou melhoras no Arruda que, caso não cumpridas, previam a penhora do estádio e o pagamento de uma multa que ultrapassava os R$ 100 milhões. Reformas pontuais, paliativas, livraram o Arruda naquele ano. Mas o estrago estava feito e ia muito além da estrutura física.

O SANTA CRUZ EM 2006

64 jogadores no elenco
33 dispensas durante a Série A
R$ 2 milhões em multas por dispensas
R$ 1,7 milhão receita com a venda de jogadores (Carlinhos Bala e Rosembrick)
5 treinadores (Givanildo Oliveira, Giba, Valdir Espinoza, Maurício Simões e Fito Neves)
10 meses com os salários dos funcionários atrasados
4 meses atraso dos salários do elenco
R$ 80 mil dívida em premiações ao elenco

O SANTA CRUZ EM 2016


53 jogadores no elenco
6 dispensas durante a Série A (Lucas Ramon, Leonardo, Bolaño, Marcinho, Pedrinho Botelho e Fernando Gabriel)
R$ 500 mil em multas por dispensa
3 técnicos (Marcelo Martelotte, Milton Mendes e Doriva)
6 meses com os salários de alguns funcionários atrasados
3 meses com o salário do elenco atrasado

Dez anos depois, no mesmo lugar


Ao contrário da atual temporada, o ano de 2006 não teve qualquer lembrança boa para os tricolores. Chegou perto disso. Mas o que poderia ser um bicampeonato estadual ficou marcado como a interrupção brusca do planejamento para a temporada, com a saída de Givanildo Oliveira, às vésperas da final do Estadual, na qual o Santa Cruz saiu derrotado. A unidade do vestiário, trunfo do time na temporada em 2005, seria quebrada de forma irreversível.

O cenário é confirmado por quem viveu o clima dos vestiários na época. Coincidentemente, está no mesmo lugar hoje, numa função distinta. Auxiliar técnico do clube e encarregado em comandar a equipe nos últimos jogos deste Brasileirão após a saída de Doriva, Adriano Teixeira amargou o seu segundo rebaixamento na elite pelo Tricolor.

Em 2006, Adriano estava no Arruda como zagueiro. Era um dos líderes daquele grupo. A época é recordada por ele com pesar. Adriano lembra que, em 2006, “problemas extracampo” se alastravam pelo José do Rego Maciel. Prefere não detalhar muito o que se passava nos bastidores, mas afirma com convicção que os vestiários corais eram turbulentos. “Tinha briga de egos, estrelismo. Hoje aqui todo mundo é operário. Na época, não tinha essa união”, compara.

Adriano deixou o clube só em 2007, aposentado - chegou em 2005. Retornou em 2014 para compor a comissão técnica. Como funcionário do clube, aos 43 anos, deseja também que o Santa melhore com o tempo. “A estrutura está melhor que há dez anos, claro. Mas é preciso ainda melhorar. Não temos centro de treinamento. O Arruda é o nosso CT. Tenho certeza que a diretoria está buscando e isso vai se resolver”, pontuou.
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As pedras no caminho em 2006

A saída de Givanildo >> A nau do Santa Cruz começou a virar em 2006 na véspera da decisão do Estadual, com a saída inesperada do técnico Givanildo Oliveira. O técnico deixou o Tricolor para treinar o Atlético-PR. Givanildo havia realizado o planejamento coral para a temporada, inclusive com a indicação de reforços.

O elenco sem força >> Tiano, Marcos Mendes, Alex Oliveira. Esses foram os principais jogadores que o Santa contratou no início do ano para disputar a Série A. Atletas que não renderam bem. O ano ainda marcou a saída de Carlinhos Bala e Rosembrick, principais remanescentes do time de 2005. E a cada treinador que chegava, novas indicações e contratações. A maioria só serviu para aumentar as dívidas do clube.

Instabilidade no comando >> Os dez primeiros jogos da Série A derrubaram dois técnicos. O primeiro foi Giba, que assumiu o time na decisão do Estadual. O treinador iniciou o Brasileiro, mas não durou muito. Foram quatro jogos, com dois empates e duas derrotas. Logo depois assumiu Valdir Espinosa. A expectativa era de melhora, que não aconteceu. Nos seis jogos seguintes, antes da parada para a Copa, um empate e cinco derrotas. Foi demitido.

Vestiário “pesado” >> O Santa ainda protagonizou um bom momento na Série A de 2006. Após a saída de Espinosa, Maurício Simões assumiu o time com tempo para trabalhar. Um mês sem jogos em virtude da paralisação da Copa. Quando o Brasileiro foi retomado, o Tricolor era outro. Emendou quatro vitórias (Goiás, Fortaleza, Flamengo e Corinthians) e reagiu. Mas os problemas internos implodiram o bom momento. Os atrasos salariais provocaram um racha entre elenco e direção. O clube voltou a afundar, regressou à zona de rebaixamento e não mais saiu, sendo rebaixado com três rodadas de antecedência, com Fito Neves no comando da equipe tricolor.

As pedras no caminho em 2016

Contar com dinheiro que não tinha >> O presidente Alírio Moraes contou com valores que acabaram não entrando no clube, de um acerto que não se consumou com a fornecedora Dry World, que projetava injetar R$ 7 milhões em três anos; de sócios e bilheterias. Foi pego de surpresa também com os bloqueios das cotas de TV e de parte do repasse da Conmebol pela participação na Copa Sul-Americana. O problema pipocou nas mãos dos funcionários do clube, alguns até há seis meses sem salários. Jogadores acumulam três folhas em aberto.

Contratações sem critério >> Sem dinheiro, o Tricolor recorreu a atletas desconhecidos e empréstimos de “encostados” em outros clubes. Incapazes de substituir ídolos em má fase, a exemplo de Grafite. Também errou ao contratar jogadores sem destaque recente, como Danilo Pires, Mário Sérgio, Marcinho (sete quilos acima do peso ideal) e Roberto - os três últimos por indicação de Milton Mendes, que ganhou aval para contratar no período que o Santa tinha certa condição de trazer reforços. Quando Doriva assumiu o time, a diretoria só conseguiu três reforços, todos às pressas: Wágner, Mazinho e Gabriel Vallés. O argentino sequer foi regularizado a tempo para jogar e treina ainda no Arruda.

O vestiário “pesado” >> A contratação do técnico Milton Mendes foi certeira no primeiro semestre. O treinador chegou para substituir Marcelo Martelotte, que comandou o time no acesso. Com Mendes, o Santa Cruz sagrou-se campeão do Nordeste, estadual e iniciou bem o Brasileiro, chegando até à liderança. Mas o clima entre treinador e alguns jogadores e funcionários azedou (desde a conquista regional, na verdade). Os relatos ouvidos pela reportagem eram de clima pesado e cobrança excessiva nos vestiários. Mesmo ciente da situação, a diretoria o segurou no cargo até ele pedir demissão, após a última rodada do primeiro turno.

Falta de planejamento financeiro >> Já virtualmente rebaixado no Brasileirão, o Santa Cruz poderia focar na disputa da Copa Sul-Americana a fim de aumentar as suas cotas de participação no torneio continental, que sobem de valor fase a fase. Não o fez. No duelo de ida com o Independiente Medellín, na Colômbia, o técnico Doriva (sem o conhecimento da direção, alegação da cúpula coral) poupou três dos principais titulares do time: Léo Moura, João Paulo e Keno. Resultado: derrota por 2 a 0. O 3 a 1 no Arruda foi insuficiente para a classificação às quartas, que poderia garantir mais R$ 1,483 milhão aos cofres corais.