ARTILHEIRO
De férias, atacante Gilberto volta ao Arruda para rever amigos: "Aqui é minha casa"
Artilheiro do Brasileirão de 2013 falou sobre a vida no Canadá e os planos de futuro
postado em 03/12/2014 19:00 / atualizado em 03/12/2014 18:52
O atacante já viveu muita coisa desde que deixou o Santa Cruz. Vestiu a camisa do maior rival do Tricolor; passou por dois doídos rebaixamentos; foi artilheiro de um Campeonato Brasileiro da Série A e teve a infeliz oportunidade de viver de perto uma das histórias mais controversas da história do futebol brasileiro: o rebaixamento da Portuguesa em 2013. Hoje, Gilberto é destaque na Major League Soccer, a liga norte-americana. Joga no Toronto FC, clube de uma das cidades mais importantes do Canadá. Sua camisa, com o número nove às costas, é a mais procurada pelos torcedores. Um sucesso que o faz sonhar ainda mais alto, com os gramados europeus.
Nesta quarta-feira, o jogador apareceu no Arruda junto com Renatinho, seu amigo de longa data. Voltou para rever antigos companheiros e funcionários do clube, que ainda se recordam do tempo em que o atacante morava no clube e cochilava, entre treinamentos e “resenhas”, pelas arquibancadas do estádio. Gilberto conversou com a reportagem do Superesportes e falou sobre seu passado no Brasil, seu presente na MLS e um eventual futuro no futebol do Velho Continente. Confira:
Como vem sendo sua vida lá em Toronto?
O clube dá uma estrutura diferenciada pra gente. Fiz aula de inglês, fiz tudo aquilo que eu poderia para aprender o básico, para poder me adaptar um pouco à cultura deles. No contexto geral, foi um ano muito bom pra mim. Eu me afirmei fora do país, e hoje meu nome está bem especulado na janela da Europa. Então, foi um ano que foi muito proveitoso.
E o inglês, já aprendeu?
Mais ou menos, só “oi” e “tchau” (risos).
Como foi sua temporada no clube?
Eu estava jogando de segundo atacante e, às vezes, até de meia, porque lá estava o (Jermain) Defoe. O sistema lá é inglês. São duas linhas de quatro e dois atacantes, só que um fica recuado, no caso, eu. Eu estava dando mais passe para gol. Fui o líder de assistências do time, dei cinco assistências. O artilheiro foi o Defoe, que fez onze gols, e eu fui o vice-artilheiro, com sete.
Já está adaptado?
Então, acho que foi um ano proveitoso no sentido de que, no começo do ano, eu não sabia falar inglês, estava me perdendo, não conseguia acompanhar o esquema taticamente, a linguagem… estava meio receoso de estrear, disso e daquilo, e não consegui me adaptar logo.
Depois de um tempo, as coisas foram acontecendo naturalmente. Tanto que, quando eu cheguei lá, minha camisa era a menos vendida. E quando eu saí, era a mais vendida. Nem pra mim teve. Eu queria trazer camisa para os meus amigos e eles falaram: “você tem dez camisas e só, porque o resto tem que vender, tem que dar para a MLS, que já pediu mais de camisas suas e não tem na loja”.
O que está achando da cidade?
A cidade é fantástica. Uma cultura muito diferente, as pessoas são muito pontuais, são pessoas que te tratam muito bem. Um pouco frio, porque eles são receosos, não gostam muito de amizade, a amizade deles é meio fria. Não é como aqui, que eu chego e abraço todo mundo, brinco com todo mundo. Lá, cada um tem seu espaço, e as brincadeiras têm que ser um pouco menos do que aqui.
Você acompanhou a temporada de Sport e Santa Cruz?
Eu acompanhei os dois times, porque o Santa é minha casa e o Sport eu respeito, tenho um respeito muito grande. Gosto do Sport, assim como eu gosto muito do Santa. Na verdade, o Santa me botou no cenário do futebol, e a história que eu tenho aqui, eu posso passar dez anos fora do país que vou estar sempre lembrando do Santa e acompanhando as notícias do Santa, porque é minha casa. Aqui, eu me sinto em casa. Para mim, aqui é só lembranças boas e recordações de um tempo que a gente sofreu mas foi feliz.
Quais as perspectivas dos dois para 2015?
O Santa Cruz esse ano fez uma boa Série B, tava disputando para subir, eu estava feliz por isso, achando que ia subir. Estava até falando com Renatinho: “dá uma força aí aos caras, vocês vão conseguir”. Ia valorizar todo mundo, né. Na situação que o Santa se encontrava há um tempo atrás, e hoje estar disputando para subir para uma Série A... você vê a força que o Santa Cruz tem de torcida, de tudo que envolve o Santa Cruz. Acho que a gestão também melhorou bastante, e isso só contribui pra que os jogadores estejam bem e continuem rendendo muito mais.
Você falou que estava sendo especulado na Europa. Tem alguma proposta concreta?
Não tem nada concreto. Meus empresários vêm e falam uma coisa, depois falam outra, e eu fico na minha porque não gosto de me envolver com negociações. E vou deixar na mão de Deus. Se for para acontecer, vai acontecer. Se não, eu vou continuar lá no Toronto. Estou feliz lá, é minha casa lá agora, e quando eu estou num lugar eu dou sempre meu máximo pra que eu melhore ainda mais.
Considerando que essa proposta aconteça, em que país você se imagina atuando?
Eu gosto do futebol da Espanha, é um futebol tocado, com infiltrações, com bom passe, e eu acho que se eu tivesse na Espanha eu ia receber bastante passes na diagonal, que é o passe que eu mais gosto. Então eu acho que a Espanha é um bom local pra eu jogar. Mas eu não tenho que escolher campeonato, eu tenho que chegar e jogar. Não tem essa. Onde eu for, eu vou estar sempre dando meu máximo e tentando fazer meus gols, que é o importante.
A Portuguesa acaba de ser rebaixada à Série C, depois da polêmica de 2013. Como você enxerga a situação do clube?
Olha, eu já falei bastante sobre esse caso. Acho que o que fizeram com a Portuguesa, eu não tenho nem ideia de até onde foi, mas foi uma safadeza muito grande. Porque pra você pegar um time que nem a Portuguesa, que não pagava direito, que não tinha uma estrutura assim com o Santa tem, que não tinha muita coisa... É um time bom de se jogar, mas não tinha muitas coisas, e o time em si conquistou tudo dentro de campo suando, correndo, revirando. Foi um dos times que mais jogou bonito naquela época, e no final, ter aquela reviravolta... Pra mim foi revoltante, não minto. Porque eu acho que no futebol a gente tem que ver o campo, e não a parte burocrática. Eles deram muito valor àquilo que tinha fora, e não ao sentimento dos jogadores de dentro da equipe.
Eu tenho na minha consciência que eu não desci, porque a gente conquistou os pontos que precisava para não descer. Agora, se aconteceu uma reviravolta nos tribunais, já não é problema meu. Então, minha consciência é limpa e eu acho que o pessoal do outro time que estava envolvido sabe muito bem que eles mereciam descer, porque não jogaram nada o campeonato todo e por isso que eles desceram. E aí, uma reviravolta nos tribunais? Isso é revoltante.