Com baixa arrecadação, ausência de bilheteria não afeta contas de forma significativa

A paralisação do futebol brasileiro em decorrência da pandemia de Covid-19 afeta a rotina dos clubes, sobretudo no âmbito financeiro. Perdas são inevitáveis com a falta de arrecadação em operações de jogos, incluindo a arrecadação das bilheterias. No caso do Náutico, no entanto, o que o clube deixa de apurar com a venda de ingressos não deve afetar as contas de forma significativa, como apontam os números divulgados nos boletins financeiros até então.

A reportagem do Diario de Pernambuco levantou o borderô nos dez jogos realizados pelo Náutico como mandante em 2020. Metade dessas partidas registraram prejuízo para as contas do clube, sendo as cinco presentes entre os últimos seis jogos disputados, excetuando o duelo com o Botafogo, pela Copa do Brasil. No total, o Náutico embolsou com bilheterias o montante de R$ 182.428,35, valor que sequer alcança um terço do pagamento mensal de uma folha salarial do elenco de jogadores, estimada em R$ 600 mil neste início de temporada.

O valor é contrastante com a renda bruta total apurada pelo Náutico nas dez partidas, representando menos de 25% da soma, em R$ 746.157,00. A diferença é consequência direta das despesas operacionais nos jogos expressas nos boletins financeiros, sobretudo em taxas referentes aos custos com arbitragem e arrecadação da Federação Pernambucana de Futebol.

Além desse fator, também chamam a atenção as cifras empregadas pelo clube em despesas como o uso de segurança privada. Só nesse quesito, o Náutico gastou o total de R$ 126.440, valor próximo ao que o clube embolsou como lucro nos dez jogos até aqui.%u202C Mais da metade do custo foi empregado apenas em uma partida, na Copa do Brasil contra o Botafogo, onde o Náutico desembolsou R$ 72 mil com segurança particular. Também contaram com o reforço de segurança os jogos contra Central e Retrô, pelo Campeonato Pernambucano, além dos duelos contra Sport, ABC e Fortaleza, pela Copa do Brasil.

A reportagem do Diario tentou entrar em contato com o presidente executivo do Náutico, Edno Melo, porém não foi atendida ou teve as mensagens respondidas. Em entrevista ao repórter Antônio Gabriel, da Rádio Jornal, na última segunda-feira, o mandatário alvirrubro havia apontado para uma importância da captação de receitas com a realização dos jogos. "Esse momento agora vai abalar um pouco as finanças do clube, lógico, por conta das rendas dos jogos", disse Edno Melo, apontando outras vias de receitas que o clube também deixa de receber. "Toda a movimentação de patrocinadores, patrocínios pontuais dos jogos vão deixar de existir."

Ainda assim, o presidente afirma que o clube conseguirá manter um bom desempenho financeiro, apesar da paralisação dos jogos. "Eu garanto que até hoje o Náutico está adimplente em todas as suas situações, com elenco, com administrativo, seja com salário, seja com bicho ou premiações. A gente está numa situação tranquila nesse sentido, de que elenco e comissão técnica, todos vão entender caso haja alguma necessidade de atraso. Mas que eu acredito que não vá haver", projeta Edno Melo.

Na avaliação do líder do Executivo, o resultado apresentado é reflexo de uma cultura de austeridade financeira. "Para essa situação que acomete o mundo, a gente não está preparado e nunca vai estar. Isso só deixa mais claro o quanto a gente deve ser preciso no nosso orçamento, não com um orçamento fictício, onde a gente ainda vá buscar as receitas. O clube poderia ter ficado numa situação muito pior. Esse controle nosso, essa austeridade tem um preço, da cobrança da torcida e da imprensa para trocar treinador ou jogador, mas a gente sabe o quanto é necessário esse sacrifício, para que a gente tenha um ano tranquilo e os resultados venham por consequência. Não a todo custo", apontou Edno.