Salários atrasados, confusão por comida e doações: base do Náutico vive dias de polêmica

Durante a semana, circularam informações de que atletas da base do Náutico teriam invadido a cozinha do Centro de Treinamento e arrombado uma geladeira para se alimentar. A notícia causou um burburinho dentro do clube e provocou o afastamento do técnico do sub-20, Fernando Lassálvia, às vésperas da Copa do Nordeste da categoria, em Alagoas. Sobre os incidentes, o diretor do CT alvirrubro, Luiz Guerra, concedeu uma entrevista coletiva, na qual ainda relatou a situação da base timbu, que, segundo ele, sobrevive graças a doações.

"A questão foi que nós fornecemos lanche a todos os atletas. Alguns dos atletas que ficaram comeram o lanche de outros que estavam no colégio. Então eles entraram na cozinha pra comer algo antes de dormir. Mas não houve arrombamento. Até porque as geladeiras do clube não são trancadas. Mas isso já foi conversado. Aconteceu há mais de 20 dias. Não entendi porque isso veio à tona agora, já que foi conversado e não se repetiu”, minimizou.

Já o afastamento de Lassálvia, diz, ele, deu-se por outros motivos. “Ele foi afastado porque está cirurgiado. Vamos fazer um balanço depois, porque é a última competição da base. A próxima pode não ser mais na nossa gestão, que é a Taça São Paulo. Não vamos simplesmente demitir, para gerar passivo. O clube está tendo responsabilidades com isso, mesmo que ele seja demitido. A decisão vai ser tomada depois.” O detalhe é que Lassálvia estava cirurgiado e treinaria o time normalmente, mas só foi afastado depois da confusão. O time sub-20 será comandado por Levi Gomes.

Base sobrevive de doações
O diretor também explicou algumas das manobras feitas para manter a base, que, segundo ele, tem dois meses de salários atrasados e se mantém com doações. “Temos vários parceiros que doam e alimentam o clube trazendo frutas e verduras, fazem doações de carnes e aves, mas infelizmente não são suficientes para a necessidade do mês inteiro. A base não tem caixa próprio, temos um caixa só vinculado ao executivo. Sempre que fazemos uma demanda financeira, há um prazo de dois ou três dias, e tentamos resolver com alguma outra coisa pra substituir essas comidas”, explicou, negando, porém, que algum atleta tenha passado fome.

Segundo ele, falta um repasse adequado de verbas por parte do clube. “O repasse varia. Às vezes é de R$ 15, R$ 20, R$ 25 mil. Hoje, a folha total da base é de R$ 80 mil, contando funcionários, atletas e despesas gerais”, disse.

Críticas
Mesmo admitindo os problemas, Luiz ainda alfinetou o Conselho Deliberativo do clube e criticou a antiga gestão do CT, capitaneada pelo atual candidato a vice-presidente alvirrubro Ivan Brondi, e disse ver evolução nos dias atuais. “Ao contrário do ano passado, estamos evoluindo. A antiga direção da base, que hoje está aí concorrendo na eleição, infelizmente, falhou na questão educativa. Em agosto, todos os atletas alojados no clube estavam reprovados por falta no colégio. Então, onde estava o Conselho nessa hora para fiscalizar a pessoa?”, questionou.

 

A resposta de Lassálvia
Dono das denúncias contra a atual gestão, o treinador Fernando Lassálvia rebateu o diretor em contato com o Superesportes. "Confirmo todas as denúncias que fiz. A situação das categorias de base é caótica, um lixo, abandono total. Não temos a quem recorrer. Os atletas não estão indo para o colégio há mais de um mês. O arrombamento a geladeira aconteceu inúmeras vezes", disse.

 

Ele ainda diz que os atletas da base podem sair do clube a qualquer momento e ainda processar o Timbu. "Qualquer atleta com contrato profissional da base do Náutico pode entrar na Justiça e ficar livre. Todos estão há três meses sem receber salário, sem recolher o INSS. Os atletas estão passando por necessidades absurdas. Como um atleta profissional não tem dinheiro para comprar uma pasta de dente, um sabonete? Isso é uma vergonha."

 

O treinador ainda voltou a rebater o Luiz Guerra quanto ao motivo de seu afastamento. "Estou cirurgiado, mas o motivo do meu afastamento foram as denúncias que eu fiz. Como forma de represália, eles me demitiram. Foi o próprio Luiz Guerra que me disse isso e afirmou que a decisão foi uma ordem do presidente (Glauber Vasconcelos). Além disso, quando eu fui convocado para prestar esclarecimentos ao Conselho Deliberativo, ele (Luiz Guerra) me informou que eu estaria proibido de ir. Mas isso seria uma afronta ao órgão máximo do clube. Fora que isso é assédio moral."