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Pelé, 80 anos: em Pernambuco, Rei do Futebol fez história dentro e fora das quatro linhas

A terra dos altos coqueiros foi testemunha de alguns dos episódios mais marcantes do Atleta do Século, que celebra 80 anos nesta sexta-feira (23)

postado em 23/10/2020 07:30 / atualizado em 23/10/2020 08:37

(Foto: Divulgação)
“É um gênio indubitável! Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: 'Como vai, colega?'”, observou, cirurgicamente, Nelson Rodrigues. "O difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols. É fazer um gol como Pelé", apontou, certa vez, Carlos Drummond de Andrade. Ninguém recebe lisonjeiras descrições de tais personalidades à toa. No caso de Edson Arantes do Nascimento, mundialmente conhecido como Pelé, essas palavras são proporcionais ao fascínio que exercia com uma bola nos pés. O Rei do Futebol desperta curiosidade até hoje, dia em que completa 80 anos. E, em sua vasta biografia, o homem que eternizou a camisa 10, coleciona memoráveis passagens por essas terras. Em comemoração à data, a reportagem do Diario de Pernambuco reuniu alguns marcantes capítulos envolvendo o Atleta do Século e a terra dos altos coqueiros.

A relação do Rei com Pernambuco poderia ser maior. Talvez se Pelé tivesse jogado por algum time do estado, com certeza teria feito história e aumentado sua idolatria na região. E isso quase aconteceu. A primeira chance surgiu através de uma oferta do Santos para o Sport. Em 1957, o clube da Vila Belmiro enviou um telegrama oferecendo Pelé ao Leão da Ilha, que foi prontamente recusado por José Rozenblit, diretor de futebol do clube à época. Um ano após a recusa do Sport, o “jovem desconhecido” ganhou espaço no futebol. E só fazia crescer. Pelé foi o artilheiro do Campeonato Paulista de 1958, com 58 gols, e ainda marcou 6 gols na Copa do Mundo, sendo campeão após goleada na decisão por 5x2 em cima da Suécia.

Os anos foram passando e Pelé cada vez mais chamava a atenção do mundo. No Santos, clube no qual o Rei se consagrou, encantava o planeta com um futebol de encher os olhos. O primeiro jogo histórico contra atletas pernambucanos foi em 17 de novembro de 1966. Naquela noite de quarta-feira, o Náutico foi até São Paulo e venceu o Santos de Pelé e companhia por 5 a 3, no estádio do Pacaembu. Um resultado que assombrou o Brasil, pois o Santos, naquela época, era considerado o melhor time do mundo, até pela imprensa internacional.

Na época, o Timbu tinha um bom time, com os destaques Bita, Lalá e Ivan Brondi. “Naquele ano tínhamos um time muito bom, com 80% do time formado no Náutico. Perdemos o primeiro jogo aqui no Recife por 2 a 0, com Pelé mandando no jogo. No segundo jogo no Pacaembu revertemos o placar e vencemos eles por 5 a 3 e forçamos uma terceira partida, daí perdemos por 4 a 1, com Pelé mais uma vez sendo fantástico. Eu sempre acompanhei Pelé, eu era jovem e ia pro Pacaembu vê ele jogar, dava gosto, o time do Santos era uma Seleção”, rememorou Ivan Brondi.

Já em 1973, outro duelo de tirar o fôlego no Recife envolveu o Santos de Pelé. Dessa vez, contra o Santa Cruz. O jogo foi no estádio do Arruda, válido pelo Campeonato Brasileiro daquele ano. Na ocasião, o Tricolor venceu por 3 a 2, com dois gols de Ramon e um de Luciano “Maravilha” Veloso. Além deles, a Cobra Coral também contava com Givanildo, que hoje é treinador. Nesse ano, o Santa Cruz terminou o campeonato entre os 10 melhores. 

“Estávamos vencendo o jogo por 3 a 0, Ramon muito bem na partida e eu dominando o meio campo junto com Luciano. O Pelé tava desligado no jogo, coisa rara de se ver. Até que faltando 10 minutos pra terminar o jogo deram uns gritos nele, e ele acordou, ele fez dois gols e se tivesse mais 5 minutos ele empatava a partida. Ele era genial”, disse Givanildo, que marcou Pelé em campo naquele jogo.

Em 1994, Pelé estava novamente mantendo os laços com Pernambuco, mas dessa vez fora de campo. O Rei se casou na capital pernambucana com a cantora gospel Assíria Seixas Lemos. Recife foi escolhido porque os pais da noiva viviam na cidade. A cerimônia ocorreu na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, localizada no bairro do Espinheiro. Em seguida aconteceu a festa que “parou” a cidade. Um trio elétrico fez o show para os recifenses que se encontravam no segundo jardim de Boa Viagem, com direito a muitos fogos.

DÉCADAS DE BRILHO

Nascido em Três Corações, no interior de Minas Gerais, Pelé saiu de casa ainda criança, com apenas quatro anos de idade. Naquele momento, o seu destino era Bauru, em São Paulo, por conta de uma oportunidade de trabalho para o pai, Seu Dondinho. 

Lá, apesar de a viagem significar uma oportunidade para seu pai, o talento do menino foi descoberto e tido como promessa. Em oito décadas, o Rei do Futebol viveu de tudo um pouco: três títulos mundiais 1958, 1962 e 1970, mais de mil gols marcados, incontáveis jogos marcantes e histórias curiosas também fora dos gramados. Pelé está passando a maior parte do tempo em casa no Guarujá (SP) para se proteger da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), mas antes de seu aniversário gravou um vídeo para os fãs, que foi enviado à imprensa informando que ele está bem. 

“Pelos 80 anos, em primeiro lugar, tenho que agradecer a Deus pela saúde de chegar até aqui com essa idade e lúcido. Muitas vezes não muito inteligente, mas lúcido. Em todos os lugares do mundo em que chego sou bem recebido, as portas sempre estão abertas no mundo todo. Espero que, quando chegar ao céu, Deus me receba da mesma maneira que todos me recebem hoje graças ao nosso querido futebol”, declarou o Rei.

Em 1969, Pelé teve sua participação artística na música e na arte de contracenar. O ex-atleta gravou um LP com Elis Regina. Foram duas canções, “Perdão não tem” e “Vexamão”. No mesmo ano, Pelé antes de fazer o seu milésimo gol, contracenou com as atrizes Regina Duarte e Rosamaria Murtinho na novela “Os Estranhos”, da TV Excelsior. 

No ano seguinte, no auge da sua carreira, Pelé foi protagonista, mas da vida real, vestindo a camisa amarelinha na Copa do Mundo de 1970, que foi disputada no México, sagrando-se campeão com a Seleção Brasileira.

Futebol, novelas, músicas, filmes. Pelé fez de tudo até pendurar as chuteiras em 1977, atuando pelo New York Cosmos, em uma tentativa de impulsionar o “soccer” nos Estados Unidos, numa época em que o Tio Sam não dava muita bola ao esporte bretão. E agora, mesmo 43 anos após ter se aposentado, o Rei continua o seu legado.