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Contrassensos
Até a última terça-feira, apenas dois estados tinham autorizado o retorno dos jogos oficiais: Rio de Janeiro e Santa Catarina - cujo estadual foi retomado na última quarta-feira. O problema é que o retorno em ambos foi duramente questionado. No Rio pela absoluta (e desnecessária) precipitação. A primeira partida foi disputada no dia 18 de junho. Em Santa Catarina, o ponto de questionamento está no contrassenso do futebol ser liberado justamente no momento mais crítico de contaminação no estado desde a descoberta do vírus. Há um mês a situação era muito mais tranquila e segura. Agora, a curva de casos é extremamente preocupante, mas o estado - assim como o país inteiro - mergulhou de cabeça em um processo insano de flexibilização.
O caso Chapecoense
As consequências já começam a vir à tona. Onze membros da delegação da Chapecoense testaram positivo para a Covid-19. O teste foi feito na última terça-feira e o resultado divulgado apenas hoje. O detalhe é que, na quarta-feira, o time enfrentou o Avaí em seu estádio. Na lista dos contaminados estão cinco jogadores - nenhum titular no jogo - e seis membros da comissão técnica, incluindo o treinador Umberto Louzer e seu auxiliar. Todos entraram em quarentena e não viajam para o jogo de volta, neste domingo, em Florianópolis. Mas o verdadeiro problema é que os protocolos de segurança ruíram. Há um risco claro de mais atletas estarem contaminados e de transmitirem o vírus para os jogadores do Avaí. O que pode iniciar mais um ciclo grave de contaminação - refletindo o momento delicado da pandemia em Santa Catarina e também expondo os riscos da flexibilização, muito além do futebol.
Simetria inversa
A definição do início das séries A, B e C para os dias 8 e 9 de agosto naturalmente desencadeou o aumento da pressão dos clubes e federações pela liberação. Cada movimento era decisivo. Assim, na terça-feira, a Liga do Nordeste anunciou seu retorno oficial para o dia 21, em Salvador. Nem o governador Rui Costa, nem o prefeito ACM Neto haviam anunciado a liberação, mas a Liga se antecipou - tirando, assim, parte do peso do desgaste dos políticos. A autorização para o Campeonato Baiano veio no dia seguinte (agendado para 22). A partir daí uma simetria inversa aconteceu. Quanto mais tardio o anúncio, mais cedo a liberação efetiva. Na quinta-feira, Pernambuco anunciou a volta para o dia 19. Na sexta, o Ceará autorizou o retorno já para esta segunda-feira. Ficou claro que tudo estava diretamente interligado. Nenhum governante queria ser o primeiro a assumir a responsabilidade na região. A maior corrente de críticas foi direcionada para a utilização da Fonte Nova, em Salvador, onde está instalado um hospital com 70 leitos na área dos camarotes. Com um certo atraso, o bom senso prevaleceu e o estádio foi retirado da programação de jogos da Copa do Nordeste.
Choque de datas
Com as liberações veio o inevitável choque de datas. Pernambucano e Copa do Nordeste têm fases programadas com 24 horas de intervalo. Só poderemos medir exatamente o tamanho do caos quando os clubes do Recife definirem suas classificações nas duas competições. No estadual, a rodada final será dia 19. No Nordestão, dia 22. Na próxima semana, analiso de forma detalhada todas as possibilidades. Quatro meses depois, e mesmo com o país registrando mais de 1.000 mortes por dia, o futebol dentro das quatro linhas voltará ao eixo principal das minhas análises. Resta saber por quanto tempo.