Aporte financeiro, estrutura e torcida. Baseado nesses três pilares, o Retrô Futebol Clube Brasil construiu, no seu primeiro ano como profissional, a estrada para a elite do futebol pernambucano. Porém, o projeto é bem mais ambicioso e não quer parar por aí.
Almejando decidir o título estadual já no próximo ano e chegar à Série B do Campeonato Brasileiro até 2024, a Fênix de Camaragibe recebeu o nome de Retrô por ter a pretensão de resgatar o futebol vistoso das épocas áureas da Seleção Brasileira, segundo o presidente e dono Laércio Guerra. Empresário do ramo da educação que já aportou, segundo o próprio, um cerca de R$ 35 milhões no clube.
Para conhecer melhor o início, o presente e principalmente os planos para o futuro, o Superesportes acompanhou o dia a dia do Retrô ao longo da semana que garantiu o acesso inédito à Série A1 do Campeonato Pernambucano (ao lado do Decisão, de Bonito). O primeiro passo de um projeto audacioso.
O surgimento
Para entender o Retrô, é preciso entender como surge o clube. Laércio é dono do centro universitário Unibra e a história da equipe começa em 2016, como um projeto social ligado à instituição educacional, voltado para o futsal. Com o crescimento do trabalho, surgiu a profissionalização. Para isso, Laércio reaproveitou terrenos que já possuía e seriam usados para empreendimentos comerciais e usou para investir no futebol, visando a parceria entre os âmbitos profissional, social e educacional.
“Eu estou podendo desenvolver projetos aqui dentro dos cursos da faculdade, isso me deu um start de criar um clube de futebol profissional, utilizar meus alunos para que eles pudessem desenvolver pesquisa aqui e esse projeto profissional encaixaria com o projeto educacional que ele tem aliado ao projeto social”, afirma Laércio.
Quanto ao nome inusitado, Laércio explica que é referência ao futebol aplicado pela Seleção entre as Copas de 1958 e 1986, com estilo “mais bonito e vistoso”, “voltado ao drible”. Então, o projeto visa “retroagir à identidade do futebol antigo do Brasil”. Essas, inclusive, também são as referências das cores do clube, com o azul e o amarelo sendo, respectivamente, as identidades visuais da Seleção.
A administração
Mas, a diferença não está apenas no nome. Como clube-empresa, o Retrô tem um sistema administrativo diferente do habitual. Confrontando os exemplos falhos, Laércio não vê risco de acontecer algo similar ao Figueirense, uma vez que se trata de um projeto criado por ele, com suas referências administrativas, mas sem garantias além disso. Criticando os chamados “times de empresário”, Laércio vê poucos clubes-empresa de verdade no país. Além disso, valoriza o sistema por garantir a continuidade da gestão. Mesmo que para isso seja preciso rever o processo eleitoral dos clubes.
“Hoje, você tem uma gestão no Clube Náutico Capibaribe que é fantástica, com o Diógenes e o Edno, imagina esses caras 10, 20, 30 anos no Náutico, provavelmente eles iam colocar o Náutico em uma condição muito grande. Mas, em algum momento vai ter que ter eleição, em algum momento vai ter que ter troca, eu acredito que isso é um dos grandes problemas para Sport, Náutico e Santa”.
O planejamento e a base
Neste cenário, o Retrô já traça planos mais longínquos, almejando a final do Pernambucano já em 2020 e o acesso à Série B até 2024. Para isso, a equipe teria que conseguir subir na pirâmide do futebol brasileiro quatro vezes nos próximos cinco anos.
Para realizar esses planos, o Retrô mira no trabalho de base, tendo seis categorias que começam no Sub-9. A médio prazo, a projeção da equipe é de ter 70% de seu elenco composto por pratas da casa. Hoje, a equipe lidera três estaduais de base (Sub-13 de futsal, Sub-15 e Sub-17), se prepara para uma excursão do Sub-17 para Portugal e para sediar um torneio com diversos clubes brasileiros em várias idades.
Por sinal, o investimento na base já vem dando resultado. O Retrô vem estabelecendo parcerias com Corinthians, Palmeiras e Flamengo e já realizou cessão de jogadores. No sistema de parcerias atual, o atleta vai como não profissional, com percentuais da profissionalização distribuídos entre a família, o clube destinatário e o Retrô. Um exemplo recente é o meia Tabica, de 15 anos, que está no Corinthians.
O investimento
Com uma folha estimada entre R$ 75 e 80 mil, a expectativa para 2020 é que o valor quase quintuplique, chegando entre R$ 350 e 400 mil. Esses valores já superam, por exemplo,a folha prevista para o Santa Cruz, que almeja R$ 250 mil para o Pernambucano, e se aproxima do Náutico, que planeja cerca de R$ 500 mil. Esse valor, porém, deve ser mantido até o clube chegar à Série C, o que, no planejamento, deve ocorrer entre 2022 e 2023.
Mas, a médio prazo, Laércio vê uma possibilidade de sustentabilidade. “Eu acredito que nos próximos dois anos, a gente, inclusive, já tem algumas possibilidades de negociação de atleta, mas isso é muito variável, eu não conto com isso. Mas, em cinco anos, com um investimento já todo planejado, eu imagino que, quando a gente estiver em uma Série C, a gente vai estar com quase 100% dos custos resolvidos”.
O 2020
Já para o primeiro Pernambucano de sua história, Laércio Guerra sonha alto para o Retrô. Mirando na possibilidade de tirar o título do Trio de Ferro, algo que não acontece desde 1944, com o América.
“Meu objetivo é estar na final. Eu sempre trabalho com metas, então, a meta inicial vai ser classificar para a Série D, segunda meta, classificar para a Copa do Brasil, e depois, ser campeão pernambucano, isso tudo dentro do campeonato. Eu vou fazer de tudo que eu puder dentro da legalidade, da formalidade, do que é correto, mas eu vou vir para brigar. Eu não vou vir para fazer participação ou apenas estar jogando, eu entro para ganhar, seja contra Sport, Náutico, Santa Cruz, eu vou enfrentar seja quem for”, afirmou, confiante.