
O melhor exemplo
Talvez a forma mais simples de defender esta visão seja analisar o ano do Náutico, que fecha com todos os salários regulares em dia e apenas o décimo terceiro aberto. Qual a última vez que isso aconteceu? Difícil lembrar. Ou seja: o clube alvirrubro conseguiu gerar receitas suficientes para executar seu planejamento financeiro. Claro que, este ano, o Náutico viveu uma redução orçamentária significativa, sobretudo nos primeiros quatro meses, com uma folha mensal abaixo de R$ 300 mil. Claro que houve ajuda de grupos de torcedores que, por exemplo, arcaram com o investimento em Ortigoza. E, fundamentalmente, a boa campanha na Copa do Brasil injetou quase R$ 5 milhões. Decisivos. Tudo isso está na conta e não muda a essência do trabalho correto do presidente Edno Melo. O ano só não foi perfeito pelo momento de desmobilização entre o título estadual e o início da Série C. Ali o trabalho de Roberto Fernandes saiu do eixo e mesmo com a substituição do treinador tendo funcionado, não houve a evolução e amadurecimento necessário da equipe para atingir um padrão de atuação “acima da margem de erro”. E se você não atinge este estágio na terceira divisão, você fica sob risco do imprevisível em um único confronto eliminatório.
O que mudou entre 2015 e 2018?
Ou seja, o ano desastroso do futebol de Pernambuco nas competições nacionais não se reflete na análise interna do Náutico. O que, ao menos na minha leitura, deixa claro que os fatores realmente determinantes para o desempenho são particulares de cada clube. A realidade local, o pouco interesse despertado pelo Estadual, a cota baixa de TV, o nível técnico muito fraco dos clubes do interior e os gramados terríveis longe do Recife exercem alguma interferência, mas não sentenciam os destinos. Afinal, em 2015, o Sport foi sexto lugar na Série A e o Santa campeão do Nordeste e vice-campeão da Série B e - convenhamos - o cenário estrutural e o trabalho efetivo da FPF era basicamente o mesmo de 2018. Aliás, o que aconteceu nos anos seguintes do Sport e do Santa Cruz facilmente explicam a raiz do colapso de hoje.
Onde o Santa se perdeu
O Santa Cruz de 2016 representa tudo o que não se deve fazer na gestão de um clube. O maior orçamento da história do clube foi consumido “como se não houvesse amanhã” e sequer foi suficiente para fechar aquele ano. Mas havia. E daquela grande temporada de 2015 não restou nada. O Tricolor vive um dos momentos mais difíceis da sua história, mergulhado em uma realidade financeira que não condiz com sua dimensão e, ao contrários de crises anteriores, com a torcida distante. Fria. Foi assim em quase todos os jogos do ano e, depois de quatro meses sem futebol, não será fácil resgatar a mobilização perdida. Até porque a gestão de Constantino Júnior trabalha de forma responsável para tentar corrigir o rumo da história. O caminho responsável é também mais longo. Hoje não há diferença efetiva no perfil de formação de elenco do Santa para clubes como Botafogo/PB ou Treze. Enquanto isso, o América/MG que subiu ao lado do Santa em 2015 e foi rebaixado junto em 2016 (e já subiu e caiu de novo), hoje está a anos-luz do Tricolor em termos de poder de investimento. O símbolo da diferença está na gestão responsável da receita em 2016. Apenas o símbolo. Porque a raiz já está ramificada por toda a estrutura.
Independente
Com orçamentos declarados acima de R$ 100 milhões por ano, a implosão do Sport é difícil de ser analisada sem acesso direto às contas do clube. Mas, no cerne do texto de hoje, a quantidade de dinheiro que circula na Ilha já deixa claro sua independência da realidade local. Não existe “fator” ou “elo” Pernambuco para justificar o que aconteceu nos últimos dois (ou quatro) anos. Seria até uma forma de amenizar os erros cometidos.