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Seleção brasileira feminina: o que a convocação regional representou para Pernambuco?

Chamadas regionais abrem portas para atletas do estado, mas de forma tímida

postado em 10/09/2017 09:00 / atualizado em 09/09/2017 18:57

Thalyta Tavares/Esp.DP
O calendário de competições oficiais da seleção brasileira feminina só retorna no próximo ano, para a disputa a Copa América, torneio que classificará para a Copa do Mundo de 2019 e para as Olimpíadas de Tóquio, em 2020. Por isso, o ano de 2017 assumiu a função de laboratório para que a técnica Emily Lima possa observar o maior número de jogadoras possível até que o time nacional seja definido. 
 
Somente neste ano, foram oito convocações. Mas duas dessas chamadas fizeram parte do projeto impulsionado pela treinadora, que busca descobrir caras novas no país: a convocação regional. Uma para jogadoras que atuam em times do Sul e Sudeste, e outra focada no Nordeste. Pernambuco apareceu com dez entre as 22 atletas da lista regional. A expectativa era por que algumas dessas meninas começassem a aparecer nas convocações principais. Por enquanto, não aconteceu. Na lista de de 20 jogadoras que defenderão o Brasil no amistoso diante da Austrália, nos próximos dias 16 e 19 de setembro, nenhuma delas esteve na “regional Nordeste”. 
 
Do selecionado do Sudeste, o cenário não foi diferente. Foram feitas outras cinco chamadas para jogos após o período de observação, mas somente quatro jogadoras voltaram a aparecer na lista: a lateral Maurine (Santos), as meio-campistas Brena (Santos) e Antônia (Ponte Preta), e a atacante Darlene (Rio Preto). Considerando que Maurine e Darlene já têm experiência na seleção, com participações nos Jogos Pan-Americanos, em Olimpíadas e na Copa do Mundo, pode-se dizer que somente a dupla Brena e Antônia foi, de fato, aproveitada das convocações regionais. 

É necessário, porém, fazer uma ressalva: a convocação para os amistosos aconteceu somente dois dias após o período de observação das atletas do Nordeste. Tempo curto, e que faria com que qualquer mudança no grupo de 20 jogadoras, que provavelmente estava já pré-selecionado pela treinadora, fosse pontual. Arrancar uma vaga entre as escolhidas, portanto, exigiria uma mostra acima da média durante o período de observação. Mas, afinal, o que a convocação regional representou para o futebol feminino de Pernambuco?

“O impossível é só temporário” 

Para as dez jogadoras atuantes no estado convocadas na relação regional, a ausência na lista atual não tem tanta importância. É uma questão de momento. Enaltecem a ideia da treinadora, que colocou o Nordeste na rota e abriu as portas da seleção para as atletas que atuam na região. Foi a prova de que a oportunidade existe e, além disso, serviu como uma injeção de confiança para as atletas.
 
“Eu senti que eles (comissão técnica) estão em todo canto. É uma boa oportunidade que eles deram para as meninas de Pernambuco, que sempre desejaram ser convocadas e era difícil ter uma seletiva aqui. Ser convocada agora me deu uma confiança muito grande, de que se eu fui agora, mostrei para ela que posso estar lá novamente, dei o meu melhor”, exaltou a zagueira do Sport, Bruna Cotrim. 
 
Lateral do Vitória de Santo Antão, Joyce também reconhece a importância de uma maior proximidade com a realidade da seleção e acrescenta: o resultado não será imediato. “Me entreguei verdadeiramente, fiz o que tinha que fazer, aquilo que a Emily propôs. Sinto que dei meu tudo e que isso pode ter uma consequência, sim. Mas a nossa convocação é muito recente. Foi regional, uma avaliação. Para amistosos e jogos, a Emily já tem suas jogadoras em mente. É muito recente para ela trocar assim.”

Ataque quase fechado

O amadorismo ainda é uma marca do futebol feminino em Pernambuco e explica a distância das jogadoras da seleção principal. Agravada pela concorrência encontrada. Paloma Nair, atacante do Vitória, ainda que chamada para a convocação regional, enxerga uma oportunidade nas categorias de base da seleção como algo mais palpável para o momento. “Porque na minha posição tem as melhores, que atuam fora do país”, explica.
 
De fato, o grupo ofensivo tem se tornado cada vez mais restrito, com nomes marcados. Assim que assumiu o cargo, Emily fez duas convocações que tiveram cinco e depois sete atacantes na lista. Nas últimas quatro chamadas para jogos, o setor ficou reduzido a quatro vagas apenas. Dessas, Marta já tem cadeira cativa, ao lado de Bia Zaneretto e Ludmila, presentes em três das quatro chamadas. Restaria, portanto, uma última vaga, que tem sido revezada entre Cristiane, Chu, Darlene - presente na convocação regional para Sul/Sudeste -, e Debinha - que já vem sendo chamada como meio-campista.

Integração com a base

As atletas que atuam em Pernambuco e já tinham passagens pela seleção perceberam, no tempo em que estiveram na Granja Comary, uma preocupação especial à integração da seleção principal com a base. Implantar um fluxo de continuidade. “Eles estão fazendo um trabalho de preparar as atletas desde a seleção sub-17, que já começam a aprender os conceitos, a formação. Sobe para a sub-20 e é a mesma coisa. Chega na principal já sabendo tudo que você precisa fazer. Eles estão fazendo uma ação conjunta”, observou Lorena, que tem passagens pelas categorias sub-17 e sub-20. 
 
Não à toa, o projeto da convocação regional trará benefícios a todas as categorias do futebol feminino da seleção brasileira. Montado com base nas atletas observadas durante os períodos de treinos e amistosos agendados, o banco de dados da CBF terá acesso livre para os técnicos Emily Lima, Doriva Bueno (sub-20) e Luiz Antônio Ribeiro (sub-17). 
Rafael Ribeiro/CBF

A experiência na Granja Comary

A convocação das atletas do Nordeste foi para treinos na Granja Comary. Foram cinco dias de trabalhos intensos, todos os dias, com média de uma hora de duração no período da manhã. Durante o processo, as atletas eram divididas em grupos para observação. O analista de desempenho Julio Resende, a coach esportiva Sandra Santos, os técnicos da base Luizão e Doriva e o auxiliar técnico Guilherme Giudice, cada um responsável por um grupo. E todos analisando os mesmos aspectos de cada jogadora. 
 
“Tinham várias pessoas observando. Cada um pegava de quatro a seis meninas e ficava para coordenar e observar o físico, a técnica, a tática dela”, relembrou a meia Ingryd, do Sport. Este primeiro fator, no entanto, feito de forma menos detalhada, já que o período de treinos na Granja não foi extenso. “Ela falou com o grupo todo que estava analisando o tático, o técnico. O físico não, porque não daria tempo em uma semana. O que eles fizeram foi o percentual e os saltos como avaliação física”, completou a atacante Juliana.
 
As movimentações iniciavam e se encerravam sob a palavra de Emily Lima. A treinadora acompanhava o processo à beira do gramado, intervindo e fazendo as alterações que considerava necessárias. O objetivo? Passar para o grupo de estreantes o modelo de jogo que vem sendo implantado na seleção brasileira feminina. “Sempre o que tinha que corrigir, ela (Emily) corrigia, dava um feedback, orientava, falava que isso daqui era melhor. Ela mostrou para nós o modelo da seleção, o estilo da seleção de jogar hoje em dia”, relembrou Juliana.

Goleiras

O trabalho de observação foi feito de forma conjunta, mas o treinamento com as goleiras teve suas particularidades. Prender-se na linha do gol também deixou de ser prioridade no futebol feminino. Na seleção, o estilo de jogo aplicado começa a exigir que a goleira exerça uma função mais adiantada. 
 
“O que mais me chamou atenção foi o estilo de jogo deles. O treinamento é muito focado em passe, domínio, porque agora o goleiro joga adiantado, como se fosse mais um líbero. Eles focaram bem nisso. Gostam que a goleira jogue adiantado. Nos escanteios, deixam a goleira com mais liberdade para sair”, explicou Lorena, que defende a meta do Sport.
Rafael Ribeiro/CBF