Futebol Nacional

FUTEBOL CHINÊS

O novo país do futebol? Com política de estado e dinheiro privado, China vira tormento brasileiro

País aposta na mão de obra local, gasta milhões e atrapalha planos dos clubes e da Seleção. Em 2015, Rithely, do Sport, negou oferta e foi na contramão do atual mercado

postado em 10/01/2016 14:13 / atualizado em 11/01/2016 14:07

Brenno Costa /Diario de Pernambuco

Ricardo Fernandes/DP
Rithely é, hoje, o jogador mais valioso do Sport. Aos 24 anos, sua capacidade física, poder de marcação e evolução no passe renderam uma disputa acirrada pelo seu trabalho. Palmeiras e Fluminense tiveram uma série de propostas negadas. Antes, ainda durante o Brasileiro de 2015, o volante foi alvo do chinês Tianjin Teda e disse um improvável não. Seguiu na contramão de um mercado que se agiganta sobre o mundo do futebol e tem atuado em duas frentes. Para fortalecer a liga local, aposta na contratação massiva de brasileiros a salários milionários. Fora do país, cresce as cifras de grandes campeonatos com patrocínios e compra de ações de clubes.

O caso de Rithely destoa completamente do que se tem visto nesta janela de transferências. O jogador trocou as grandes cifras para seguir um plano de carreira. No fim, acabou bem sucedido e renovou com o Sport até 2020. “Dinheiro mexe com a cabeça de qualquer pessoa, mas você precisa analisar os prós e contras. É uma língua diferente. Tudo diferente. Na questão do Rithely, ele tem 24 anos e com possibilidade de ser convocado para a Seleção. Nem tudo é dinheiro”, avaliou o empresário do jogador, Roberto Faustim.

Rithely e Sport negaram uma oferta de um clube que pertence a empresa Tianjin Economic - Technological Development Area (TEDA) com faturamento de cerca de 42 bilhões de dólares anuais. Situação semelhante à que vive outros 15 clubes da primeira divisão local, a Super Liga Chinesa. Com investimentos privados de companhias que precisam do apoio público, a competição virou um fantasma para o Campeonato Brasileiro. Só nesta janela de transferências, que se encerra apenas no dia 25 de fevereiro, o atual campeão nacional Corinthians perdeu as duas principais peças.

Descontados os impostos, os salários na casa de R$ 1,5 milhão fizeram Jadson e Renato Augusto saírem do clube. O caso de Jadson é ainda mais emblemático. Ele se transferiu para o Tianjin Quanjianjá, que disputa apenas a segunda divisão. A equipe é comandada por Vanderlei Luxemburgo e também acertou com o atacante Luís Fabiano, ex-São Paulo. O clube, por sinal, faz a pré-temporada em Atibaia, no interior de São Paulo.

Eles engordam a lista de jogadores que estão em ação na China e decretam uma nova rota de saída dos jogadores brasileiros para o Oriente. Nas décadas de 1980 e 1990, o Japão era quem importava a matéria prima local. Agora, com a economia fragilizada e a China forte com um PIB de 11,3 trilhões de dólares, os atletas e até treinadores com uma longa carreira pela frente como Mano Menezes (Shandong Luneng) encontraram a independência financeira em uma nova liga, que ainda peca pelo baixo nível técnico.

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Perfil de jogador contratado ameaça a Seleção Brasileira
De acordo com dados da Fifa, o Brasil é o alvo principal da China na contratação de jogadores. Em 2014, no último panorama divulgado pela entidade, o país asiático mira atletas canarinhos com média de idade de 26 anos e dois meses. Momento em que os atletas estão no auge físico. Assim, tornou-se um fantasma para a Seleção Brasileira que vê potenciais atletas como Ricardo Goulart, atualmente no Guangzhou Evergrande e convocado até se transferir para a liga de nível técnico mais baixo.

O campeonato chinês tem um gigante
O Guangzhou Evergrande é o time hegemônico na China. A equipe, atualmente comandada pelo técnico Felipão e tem seis brasileiros - entre eles Robinho e Paulinho -, venceu os últimos cinco campeonatos do país e esteve presente na última edição do Mundial de Clubes sendo eliminado pelo Barcelona na semifinal. A primeira divisão local conta com 16 equipes ao todo. Cada time pode ter, no máximo, cinco estrangeiros - sendo um deles asiático.

Futebol como política e entretenimento
A China convive com um grande fluxo populacional do campo para as grandes cidades. O governo planeja que 60% de sua população, de quase 1,4 bilhão, faça essa migração até 2020. Pessoas que agora buscam mais entretenimento. O presidente do país, Xi Jinping, entendeu o futebol - esporte que ele gosta - como uma das ferramentas fundamentais para isso. Assim, estabeleceu a modalidade como disciplina obrigatória nas aulas de educação física seguido de metas. Primeiro, voltar a disputar uma Copa do Mundo (a primeira e única vez foi em 2002). Depois, sediá-la para, enfim, vencer a competição.

Venda milionária para o Náutico
Antes mesmo da China se tornar uma das maiores compradoras da mão de obra brasileira no futebol, o Náutico vendeu o atacante Kieza para o Shangai Shenxin. Em 2011, o Timbu arrecadou R$ 1,370 milhão. 

Arquivo Pessoal/Bruno Meneghel
Bruno Meneghel fala da experiência na China
Após atuar no Náutico, Bruno Meneghel foi para o América Mineiro. Ficou pouquíssimo tempo no Coelho. Entre o fim de 2011 e o começo da temporada de 2012. Com multa rescisória de R$ 500 mil, os chineses já deram mostras da sua postura. Pagaram o valor integral e levaram o atacante para o Qingdao Jonoon. Ficou no clube por duas temporadas até que se transferiu para outro time do país, o Dalian Aerbin.

No total, foram três anos na nova mina de ouro do futebol mundial. Tempo que teve para conhecer um nova cultura, arriscar a comer escorpião (só uma vez!) e cavar seu nome no futebol oriental. Agora, de malas prontas para defender o Cerezo Osaka, do Japão, em uma nova experiência, Bruno Meneghel conta como foi as suas impressões na China.

Crescimento do futebol chinês
“De 3 anos para cá, o futebol na China vem crescendo muito com relação à estrutura principalmente. Grandes treinadores e grandes jogadores estão mostrando muita coisa boa.”

Nível do campeonato
“Está abaixo (do Brasil), mas está ficando em um nível muito bom. Acredito que esse ano já vai ser bem competitivo. Cada ano está melhorando.”

Motivo de tantos brasileiros na China
“Primeiro, porque no Brasil estão os melhores jogadores do mundo. Segundo, a situação econômica do nosso país faz com os chineses venham forte buscar as estrelas.”

Adaptação
“Os chineses são bem tranquilos. Respeitam demais os estrangeiros. Temos sempre um tradutor e isso facilita bastante.”

Lembranças do Náutico
“Só guardo coisas boas. Tenho um carinho e respeito enorme pelo Náutico. Não tenho acompanhado muitos jogos por causa do fuso horário, mas sempre vejo as notícias no dia seguinte.”

Brenno Costa/Diario de Pernambuco