Guadalajara (México) – Apesar de fazer parte do programa paraolímpico desde 1980, o goalball, espécie de futebol misturado com queimada e jogado com as mãos (veja saiba mais), estreou somente nesta edição dos Jogos Parapan-Americanos. As seis seleções inscritas na categoria masculina (Brasil, Estados Unidos, México, Canadá, El Salvador e Argentina) disputam, em Guadalajara, o ouro e a vaga para as Paraolimpíadas de Londres-2012, reservada aos campeões.
O esporte ganhou força no Brasil há cerca de 10 anos. Mesmo com o pouco tempo, a Seleção masculina já esteve em dois Jogos Paraolímpicos (Atenas-2004 e Pequim-2008) — antes a classificação para a competição era por meio do Mundial de Goalball — e, no México, os jogadores estão animados para lutar por uma nova classificação. O time está invicto no torneio (veja quadro) e hoje disputa a semifinal. O adversário não tinha sido definido até o fechamento desta edição.
No goalball, cada time conta com seis jogadores, três titulares e três reservas, sendo que todos possuem deficiência visual. O objetivo principal é vencer a barreira formada pela equipe rival e fazer gols. Durante a partida, os atletas atuam como arremessadores e defensores da bola. E, curiosamente, na Seleção Brasileira um dos maiores goleadores é um paraibano de 22 anos que se chama Romário.
O nome não é por acaso. Foi dado justamente para lembrar o ex-camisa 11, um dos maiores jogadores de todos os tempos. “Meu pai é flamenguista doente e me deu esse nome em homenagem ao Romário mesmo”, conta. O para-atleta, que usa a camisa 6 e não a 11, diz que todos acabam brincando com ele por causa do nome. E vai mais longe: “Também faço muitos gols. Acho que já tenho mais de 500 na carreira”, calcula.
O número é bastante expressivo, já que Romário entrou para o goalball há apenas seis anos. Antes, lutava judô. Até que, por intermédio de um amigo, conheceu o nova modalidade e não largou mais. Em 2006, entrou para a Seleção Brasileira e se tornou peça-chave do time.
“O goalball é muito técnico e exige bastante concentração e condicionamento físico, já que é bem movimentado. Cheguei a jogar futebol de 5, mas acho o goalball especial, pois é a única modalidade criada especialmente para os cegos. Ela não é adaptada”, orgulha-se. Segundo Romário, as chances de o Brasil garantir o ouro são grandes. “Nosso time está bem. Treinamos muito antes de vir. Temos condições de sair com medalha, sim.”
» A repórter viajou a convite do
Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB)
Quem é ele
Nome:
Romário Diego Marques
Data de nascimento:
20/7/1989
Local:
João Pessoa (PB)
Peso:
104kg
Altura:
1,78m
Classe:
B2 (deficientes visuais
que têm percepção de vultos)
Principais títulos:
» Bicampeão brasileiro
(2006 e 2009)
» Prata no Parapan-Americano
nos EUA (2009)
» Prata no Mundial de Jovens
na Colômbia (2009)
Capital representada
Brasília tem seu representante na Seleção Brasileira de goalball no Parapan-Americano de Guadajalara. Trata-se de um candango que mora no Riacho Fundo e treina no Cetef. Leandro Moreno, 23 anos, pratica o esporte há oito anos e, no ano passado, ingressou na Seleção. Assim como Romário, Moreno é apaixonado pela modalidade. “É um jogo quente, bastante dinâmico e que exige atenção”, diz. “A nossa equipe é muito boa e ágil. Acho que sairemos daqui com a vaga”, confia.
Segundo o treinador da equipe, Alessandro Tosim, a modalidade serve não só como um esporte, mas também para desenvolver a percepção dos deficientes visuais. “Eles ficam bem mais sensíveis a tudo, pois o jogo exige isso sempre. Eles aprendem muito aqui, já que precisam estar atentos à movimentação e aos sons”, explica.
Time feminino
O Brasil trouxe uma Seleção feminina de goalball, que enfrenta El Salvador, México, Canadá e Estados Unidos. A briga pela vaga olímpica está um pouco mais fácil para as mulheres, pois Estados Unidos e Canadá já garantiram lugar em Londres-2012. Ou seja, caso essas seleções fiquem em 1º e 2º, basta uma medalha de bronze às brasileiras.
Silêncio é fundamental
O jogo consiste em lançar a bola pelo chão com a mão na direção do gol adversário. O oponente tenta bloqueá-la com o corpo. A quadra tem a mesma dimensão de uma de vôlei e o gol abrange toda a linha de fundo. Cada equipe tem três jogadores e, no máximo, três suplentes no banco. Vendados, os atletas são orientados por meio de um guizo instalado dentro da bola. Portanto, o silêncio do público é fundamental. Caso algum time faça 10 gols a mais que o outro, o jogo acaba.