TORCIDA

O uruguaio colecionador de ingressos, fora das arquibancadas

Desde 1962 Nino não entra em um estádio para assistir jogos de futebol

postado em 28/06/2014 12:27 / atualizado em 28/06/2014 12:50

Cassio Zirpoli /Diario de Pernambuco

Cassio Zirpoli/DP/D.A Press
Cassio Zirpoli
Enviado especial

Rio de Janeiro - Há cinco décadas o comportamento pouco usual no futebol é o mesmo. O jogo é resumido na ida ao estádio, ficando sempre próximo ao portão, mas do lado de fora. Não há motivo algum para sofrer nas arquibancadas assistindo à partida, pois é muito mais prazeroso curtir só o "pré-jogo", colecionando os ingressos ("relíquias") de tais apresentações. Essa é a vida de Nino Ledesma, um uruguaio de 58 anos, residente na "República Oriental do Uruguai", como faz questão de dizer, citando o nome completo de seu país. A sua fantasia é uma grande colagem de ingressos de jogos de futebol, que não para de crescer.

Vai todos os cantos acompanhando o Peñarol e a Celeste, as suas duas grandes paixões. No Brasil, está encarando as grandes distâncias de ônibus. Diz ter deixado de entrar nos estádios em 1962. "Fui pela primeira vez em 1960, com o meu pai, bem criança, e vi a final da Libertadores entre Peñarol e Olimpia", lembrou. Assistiu ao primeiro jogo, vencido pelo clube de Montevidéu por 1 a 0, em 12 de junho de 1960. A conquista foi sacramentada em Assunção uma semana depois, com o empate.
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Hoje, nem lembra mais o motivo que o afastou dos campos (internamente, claro). "Já me acostumei a sofrer do lado de fora", conta, sem prender a gargalhada, quase escondida atrás da fantasia. Nela, estão ingressos de várias edições da Copa do Mundo, como 1930 (a primeira da história), 1970, 1986, 2010. Todos presenteados por torcedores. "Já me conhecem fora do Centenário (maior estádio do Uruguai) e muitos me dão, porque gostam de ver depois com o ingresso histórico colado aqui", diz.

Sem filhos, vai criando a sua própria família à medida em que a 'hinchada' uruguaia vai chegando nas canchas. E de fato a figura parece ser conhecida, sempre com torcedores acenando para Nino, horas antes do jogo Uruguai x Colômbia. "Pode escrever aí. Eu só saio do Maracanã com um ingresso do jogo (deste sábado)", sentenciou. Independentemente do resultado do confronto das oitavas de final, é bem provável que alguém realmente dê o canhoto do tíquete ao folclórico torcedor. Resta saber se será um uruguaio ou um colombiano.