O escândalo do download ilegal de documentos confidenciais do Comitê Organizador das Olimpíadas de Londres (Locog) por parte de alguns funcionários do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (Co-Rio) continua a ter seus desdobramentos. Nessa terça-feira, uma carta enviada por Renata Santiago, uma das empregadas do órgão, para Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), foi divulgada pelo blog do jornalista Juca Kfouri, no Uol.
Na correspondência, a funcionária demonstra insatisfação com seu desligamento da entidade, depois de “12 anos de serviços prestados” e alega que acessou o sistema do Locog mediante ordens superiores, não tendo se apropriado de qualquer tipo de informação confidencial.
“Na terça-feira, dia 18 de setembro, fui chamada para assinar minha carta de demissão, e a explicação que me deram foi que a ordem veio de cima, de nosso presidente, para demitirem a todos os secondees (funcionários temporários) pela acusação de violação de informações confidenciais e comerciais por parte do Locog. Eu era uma das secondees, trabalhei em Londres desde o dia 11 de junho até o dia 15 de agosto no Centro de Serviços aos CONs, na Vila Olímpica. Ao longo das primeiras semanas, fui instruída a acessar o sistema do Locog para estudar alguns documentos necessários para a realização do meu trabalho lá em Londres”, diz Renata, em trecho da carta.
Segundo a ex-funcionária, os dados para acesso ao sistema foram fornecidos pelo próprio Locog. “Todas as informações (arquivos eletrônicos, documentos impressos, fotos) reunidas e trazidas ao Rio'2016 por mim, ratifico, não eram confidenciais e muito menos comerciais e foram fruto de um trabalho árduo visando uma melhor organização para os nossos Jogos, sem nenhuma pretensão diferente desta”, destacou.
O Co-Rio não divulgou a lista de demitidos, mas confirmou que Renata Santiago é um deles. Mesmo assim, a entidade ressaltou que não haverá justa causa, já que os ex-funcionários não agiram por ‘má-fé’. “Todos os funcionários assinaram um contrato em que se comprometiam a não copiar ou se apoderar de informações a que eles teriam acesso sem autorização. Nunca achamos que essas pessoas fizeram isso por má-fé, ou para obter qualquer tipo de benefício além de aprimorar o seu trabalho. Mas cometeram um erro. Elas não foram demitidas por justa causa. Não é objetivo do Comitê colocar o nome dessas pessoas para execração pública”, esclareceu a assessoria do órgão.
Confira a carta enviada por Renata Santiago a Carlos Arthur Nuzman:
Prezado Dr. Nuzman,
Antes de mais nada gostaria de agradecer por ter tido a oportunidade de trabalhar com o senhor durante todos estes quase 12 anos.
Tenho plena consciência de que me dediquei ao máximo e sempre cumpri minhas tarefas, e muito além das minhas tarefas, com excelência.
Nunca, em momento algum, os meus colegas, chefes ou os seus clientes se queixaram do meu trabalho, pelo contrário, sempre elogiaram e sempre mostraram satisfação devido ao meu comportamento impecável e ao meu desempenho profissional.
Em relação ao ocorrido em Londres com os secondees Rio 2016, não sei até que ponto a informação correta e completa chegou até o senhor.
Não falo por nenhum deles, mas falo por mim, que sempre trabalhei com um cargo de confiança e nunca lhe decepcionei.
No entanto, na terça-feira, dia 18 de setembro, fui chamada para assinar minha carta de demissão e a explicação que me deram foi que a ordem veio de cima, de nosso presidente, para demitirem a todos os secondees pela acusação de violação de informações confidenciais e comerciais por parte do LOCOG.
Eu era uma das secondees, trabalhei em Londres desde o dia 11 de junho até o dia 15 de agosto no Centro de Serviços aos CONs, na Vila Olímpica.
Ao longo das primeiras semanas, fui instruída a acessar o sistema do LOCOG para estudar alguns documentos necessários para a realização do meu trabalho lá em Londres, já que eu era uma dos NOC Services Team Member.
Outras vezes, acessei o sistema para visualizar e tentar aprender como eles planejaram, desenvolveram e iriam executar o projeto para a Área de NOC/NPC Relations and Services, sempre pensando em adquirir mais conhecimento e poder desenvolver melhor a minha Área de NOC/NPC Relations and Services no Rio 2016.
Afinal de contas nós fomos enviados ali para observar, aprender e reunir informações que nos dessem a capacidade de melhorar nosso planejamento.
Hora nenhuma me apropriei de informações confidenciais ou comerciais.
Sabemos bem que estas informações confidenciais ou comerciais não estariam ao acesso de todos nós secondees da Rio 2016, que recebemos login e senha do próprio LOCOG.
Todas as informações (arquivos eletrônicos, documentos impressos, fotos) reunidas e trazidas ao Rio 2016 por mim, ratifico, não eram confidenciais e muito menos comerciais e foram fruto de um trabalho árduo visando uma melhor organização para os nossos Jogos, sem nenhuma pretensão diferente desta.
Estou muito decepcionada e profundamente triste de ter sido envolvida e nivelada aos demais que realmente podem haver apropriado-se de muitas informações confidenciais e/ou comerciais de suas áreas e de outras.
Não consigo realizar que o senhor tenha acreditado que eu fosse ou que eu seja capaz de cometer atos fraudulentos e criminosos já que sempre demonstrei-lhe minha honestidade e fidelidade e às instituições das quais o senhor é ou foi presidente como o Comitê Olímpico Brasileiro, o Comitê Organizador dos Jogos Pan-americanos Rio 2007, a Organização Desportiva Sul-americana e, por fim, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016.
Nunca estive nesses projetos por motivos financeiros e sim por um ideal. Por acreditar no senhor e no seu discurso sobre Movimento Olímpico e Paralímpico.
Não foram apenas 12 dias, foram 12 anos.
E doze anos de muito amor, muita abdicação, muita determinação, muita dedicação, muito profissionalismo e muito caráter.
Despeço-me com a certeza de que sempre fiz mais que o melhor e com a toda a integridade para levar adiante o seu sonho, o sonho de trazer e entregar os Jogos Olímpicos e Paralímpicos no Rio de Janeiro, que passou a ser o meu também e que me foi tirado abrupta e injustamente.
Atenciosamente,
Renata Santiago
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