Desengonçado e cambaleante, comparado a um “camelo ofegante” por uns e a um “bêbado na madrugada” por outros, Emil Zatopek estava longe de ser uma unanimidade quando o assunto era plasticidade e beleza de movimentos. Mas a resposta, o tcheco tinha na ponta da língua: corrida não tinha jurados, como patinação no gelo ou ginástica.
A Locomotiva Humana, como ficou conhecido, é um dos maiores corredores de longa distância da história olímpica. Nascido em Koprivnice, na Tchecoeslováquia, Zatopek começou a correr provas de rua quando era funcionário de uma fábrica de sapatos e, depois, no exército tcheco pós-Segunda Guerra Mundial. Diante dos primeiros resultados positivos, se tornou um obsessivo por treinos e não deixava de correr mesmo sob nevasca. Até hoje é reconhecido por implantar, mesmo de forma não-científica, modelos de treinamento copiados no mundo todo.
Nos Jogos Olímpicos de Londres'1948, conquistou a prata nos 5 mil e o ouro nos 10 mil metros, com direito a quebra de recorde. A consagração viria quatro anos depois, em Helsinque, quando subiu no lugar mais alto do pódio nos 5 mil, 10 mil e na maratona. Ao longo da carreira, o tcheco bateu 18 recordes mundias, entre 5 e 30 mil metros, além de ser o primeiro a percorrer os 10 mil abaixo de 29 minutos.
Em 31 de dezembro de 1953, Zatopek foi a grande estrela da corrida de São Silvestre, em São Paulo, e venceu com facilidade, ovacionado pelo público. Chegou a competir em Melbourne'1956, apenas um mês depois de uma cirurgia de hérnia, e não conseguiu subir ao pódio. Depois da aposentadoria, militou no partido comunista até 1968, quando foi expulso por participar da Primavera de Praga, que contestava o regime.
Emil Zatopek morreu em 2000, aos 78 anos, de complicações em decorrência de um AVC.