SPORT
Infância, vida no futebol, racismo e sonhos no Sport: um perfil do colombiano Reinaldo Lenis
Meia é estrela do Leão na disputa da Taça Ariano Suassuna contra Argentino Juniors
postado em 23/01/2016 16:20 / atualizado em 24/01/2016 21:08
Lenis recebeu a reportagem do Superesportes no CT do Leão da Ilha. Tímido, sentou-se na cadeira em um dos campos e foi soltando as palavras, todas em espanhol, no ritmo em que balançava as pernas. Estar ali naquele cenário é uma vitória para quem nasceu destinado a jogar futebol em meio às dificuldades sociais. “Venho de uma família muito humilde. Sempre me caracterizo pela humildade no bairro. Mesmo agora quando vou lá, seguem dizendo o mesmo. A única coisa que gostava era jogar bola. Todo o tempo era com a bola e, por isso, estou onde estou”, conta o atleta, nascido em Cali.
Foi assim, desde cedo, que ele começou a se aventurar pela América do Sul. Começou a jogar no pequeno Colômbia Futebol Clube até que participou de uma turnê no Peru, aos 13 anos. Chamou a atenção do Alianza Lima. Ficou por lá dois anos. “Era muito pequeno. Sentia falta da minha família e todas as coisas assim que decidi voltar”, lembra. Novamente em casa, jogou no Cortuluá até chegar na seleção de base e chamar a atenção dos Argentinos Juniors, em 2012.
No futebol mais duro da América do Sul, como o próprio Lenis afirma, o meia-atacante criou corpo. Superou até caso de racismo. Aos 23 anos, acredita que ganhou experiência para triunfar no Sport até 2018, quando termina seu contrato, e fazer valer os milhões pagos pelo clube. “Não me preocupo (em ser o mais caro). Creio que vou fazer o melhor que eu tenho, como vinha fazendo na Argentina. Agora, na partida contra o Argentinos, pertenço a Recife, ao Sport, e vou dar o melhor por essa camiseta.”
Racismo
Na Argentina, Lenis não só teve oportunidades para crescer. Precisou também lidar com problemas indigestos. Em um jogo diante do Boca Juniors, o jornal El País relatou que ele ouviu palavras duras do uruguaio Nicolas Lodeiro: “Negro de m…”. “É um problema que ficou atrás. Foi uma partida muito quente. Ele verá que faz ou que diz. Eu tenho minha consciência tranquila que nunca tratei um jogador com racismo. Cada jogador verá as coisas e a forma de jogar uma partida”, comentou.
Tatuagens, família e fé
Assim como muitos atletas, Lenis carrega tatuagens espalhadas pelo corpo. Os desenhos são para levar consigo dois grandes valores. “Sou muito crente em Deus. São coisas de Deus e imagens da minha família. Nada mais que isso.“
No ritmo do reggaeton e do videogame
Solteiro, Lenis veio para o Recife sem família. Entre um treino e outro, o atleta tenta manter os hábitos discretos que já carrega para se distrair. “Sempre escuto salsa ou reggaeton. Gosto também de jogar videogame. Agora, também ir ao shopping e, se tenho praia, posso ir lá por um tempo.”
Medo dos tubarões
A praia, por sinal, foi um dos atrativos que encantou a família de Lenis para a vinda do atleta ao Recife. Exceto por uma questão. “Esta era a possibilidade, uma possibilidade linda de um clube grande do Nordeste e decidi vir para cá. Me falaram muito bem, também entrei na internet e gostei mais estando aqui. A minha família gosta de praia, mas, quando se deram conta que haviam tubarões, não gostaram muito (risos). Mas estou contente com a torcida. Creio que é muito grande e, na Colômbia, já me davam apoio pelas redes sociais para vir aqui.”
Temporada 2016
Empolgado com os primeiros dias no Sport, Lenis projeta o clube com o mesmo ritmo do fim de 2015 e em condições de disputar mais uma temporada em alto nível. "Esperamos fazer uma boa campanha em todos os campeonatos. Creio que o grupo está mentalizando para poder sair campeão. Oxalá, seja em tudo. Mas, no dia a dia, tem que trabalhar para isso."