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Eduardo Baptista completa no comando do Sport: "Humildade é herança do meu pai"

Feliz com trabalho no clube, Eduardo descarta sair do Leão por outra proposta

postado em 30/01/2015 08:29 / atualizado em 30/01/2015 09:30

Daniel Leal /Diario de Pernambuco

Paulo Paiva/DP/D.A Press
No dia 29 de janeiro de 2014, sentaram-se à mesa o presidente do Sport, João Humberto Martorelli, o então vice-presidente de futebol, Sérgio Kano, e os diretores Arnaldo Barros e Gustavo Dubeux. Em pauta, o substituto para Geninho, recém-demitido do Leão. O mercado escasso e a possibilidade de lançar um profissional com DNA campeão levou Dubeux a sugerir: “Por que não Eduardo Baptista?”. A resposta da mesa foi unânime. No mesmo dia, o executivo de futebol, Nei Pandolfo, comunicou ao então preparador físico a intenção de tê-lo como treinador interino. De pronto, porém com ressalvas, o desafio foi aceito. Um dia depois, Eduardo assumiu o clube. E hoje, passado um ano, não tem mais data para sair.

Credenciado pelos títulos da Copa do Nordeste (este com a peculiaridade de ter conseguido fazer de um time praticamente eliminado, campeão) e do Estadual, Eduardo ganhou fôlego para seguir à frente do clube na Série A. Em meio a uma campanha analisada de forma ampla como “sólida”, teve altos e baixos. Foi nos piores momentos, no entanto, que amadureceu. Que teve à prova a nova carreira. Sobressaiu-se.

Aos 42 anos, Eduardo Alexandre Baptista é hoje o coração do Sport. Passam por ele decisões importantes. A forma de fazer futebol no clube foi remodelada. Com respaldo da diretoria, passou a privilegiar-se a base, a infraestrutura, criaram-se projetos a longo prazo. Filho de Nelsinho Batista, campeão da Copa do Brasil em 2008, o atual treinador rubro-negro tratou de traçar seu próprio caminho fazendo do sobrenome apenas um artigo de luxo.

Sem deixar de reverenciar o pai, ídolo do clube e dele próprio, Eduardo vai lentamente deixando de ser o “filho de Nelsinho” para fazer a equação mudar para “Nelsinho, o pai de Eduardo”. No caminho trilhado por vias humildes, “herança do meu pai” – ressalta -, Eduardo garante que ficará no Leão pelo menos até o fim do ano. A diretoria já sinaliza que quer muito mais.

Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Eduardo Baptista relembra principais momentos do seu primeiro ano como treinador

Qual o balanço que o você faz desse tempo à frente do Sport? Passou rápido, não? Lembra como surgiu o convite para assumir o time?

Passou rápido demais. Muita coisa aconteceu. Tudo o que poderia acontecer na carreira de um treinador, este ano aconteceu comigo. Experiências boas, ruins, tive todas as provas. Quando fui chamado, realmente não esperava ser chamado. Eu estava em casa, tinha acabado de chegar, quando Nei (Pandolfo) me telefonou e pediu para eu comparecer na Ilha. Já desconfiei que poderia ser algo nesse sentido. Me comunicaram que eu teria dois jogos como interino. E aí começou tudo. Depois do primeiro jogo pintou o nome de Jorginho. A conversa encaminhou bem, mas ele teve problemas e desistiu. Percebi que a coisa poderia pintar para outro lado, os nomes não estavam surgindo e os resultados foram aparecendo. Vi que teria que tomar uma decisão muito em breve.
Paulo Paiva/DP/D.A Press

Sorte do Sport?
Sorte a minha (risos).

O que mais mudou na sua vida desde então?
Se fosse pontuar tudo… É muita coisa. Eu como pessoa fui obrigado a mudar de várias formas. Eu tinha vivência de vestiário, conhecimento tático… Essa parte não foi o problema. Era mais pelo extracampo, que é muito pesado. Precisei amadurecer, errei alguma vezes, puxava muito tudo para mim, a cobrança que vinha de fora. E chegou um momento que ficou pesado. Vi que não podia deixar aquilo me atrapalhar e fui aprendendo dentro do comando do Sport mesmo. Veio tudo com uma carga de emoções imensa.

E sair às ruas, como passou a ser?
Sou um cara muito simples, gosto de ir ao shopping, ir tomar um café, comer pão de queijo… Como todo mundo. Você acaba sendo visto e parado. Não que isso me incomode, todo mundo que me para às vezes não me elogia nem pelo resultado de um jogo ou pelo trabalho em si, mas a pessoa que eu sou e isso é uma coisa legal. Também acho que tenho uma função social na posição que ocupo. Você tem que acabar sendo exemplo de alguma coisa. Tenho obrigação de mostrar uma imagem boa, de simplicidade, humildade. É uma herança que meu pai deixou.

E o simbolismo que gira em torno desse um ano como técnico do Sport, como você vê essa marca? E quais os planos daqui para frente?
Fazia muito tempo que não tinha treinador que virasse o ano aqui, mesmo antes do meu pai. Esse era um objetivo meu, não para quebrar recordes nem nada. Estou traçando a minha carreira não para se amanhã aparecer algo bom, sair. Estou traçando a minha carreira para tentar o máximo tocar um projeto. Tenho um projeto aqui pelo menos até o fim do ano. Se tudo ocorrer bem e o Sport me quiser aqui, vou ficar. Se depender de mim, até o fim do ano nada me tira daqui. Tenho um trabalho a ser feito, além de ganhar títulos e fazer um Brasileiro melhor que o do ano passado. Tenho alguns objetivos na base. Fazer como fiz com Joelinton, Renê, Ronaldo… Quero fazer de novo em 2015. Meu grande objetivo é achar mais “Joelintons e Renês”. É um objetivo meu e do presidente Martorelli.

Qual foi o seu melhor momento nesse um ano?

Pode parecer contraditório. Foi muito bom ganhar os títulos e tudo mais, mas meu melhor momento foi quando estávamos há oito jogos sem vitória, era um empate e sete derrotas. Foi um momento dificílimo e não é todo treinador e diretoria que suportam essa pressão sem ter os resultados. Ali foi minha grande vitória. Naquele momento, eu sabia, disse para mim: “vou ver se sou treinador ou não”, se eu iria suportar a pressão. E não abandonei o barco. O presidente falou para mim e disse que se eu estivesse com ele iríamos juntos independentemente do que acontecesse. E fomos em frente. Eu sabia o que precisava ser feito, tinha a convicção do que poderia fazer, só não sabia se iria dar certo ou não. Mas sabia que tinha o caminho a percorrer e sair daquele momento. Vencemos o Figueirense, o Palmeiras, o Atlético-PR e conseguimos uma reta final de Série A emblemática. Essa foi a minha grande conquista. Foi um ponto muito bom para mim. Não que títulos não fossem algo bom, mas ali foi o melhor momento pelo teste.

E o pior momento?

A minha maior decepção minha foi a Sul-americana. Fiquei frustrado. Era uma sequência que queria ter, pois o Sport ainda não tem título internacional e era uma vontade minha grande. A derrota mexeu muito comigo. Sabia que se passasse dali chegaríamos mais além e sair na primeira fase foi muito triste.

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ELOGIOS DO CHEFE - ENTREVISTA: ARNALDO BARROS

Vice de futebol do Sport revela: “Estamos trabalhando para que Eduardo fique muito mais do que um ano”.

O senhor pode revelar os bastidores da chegada ao nome de Eduardo Baptista para técnico do Sport?

Quem teve a ideia de indicar o nome de Eduardo foi Gustavo Dubeux. Quando ele mencionou a possibilidade de ele (Eduardo) assumir o time interinamente, todos nós aprovamos por unanimidade. No primeiro momento, ele não queria assumir a equipe definitivamente, ele não se sentia preparado. Disse que assumiria interinamente, mas que para assumir em  definitivo teria que pensar. E, com o passar dos jogos, foi adquirindo confiança e nos provando que estava pronto. Mas não adiantaria efetivá-lo sem que ele quisesse. Demos tempo, ele se sentiu pronto após vencer três jogos e, em consenso, decidimos pela efetivação.

Eduardo sempre menciona o senhor como ponto chave para a permanência dele naquele período de oito jogos sem vitória na Série A. Como se deu aquele momento?
Foi exatamente o que vocês imaginam. O Sport passava por um momento político delicado, Martorelli havia assumido o clube há seis meses. Alguns pressionavam para fazer do futebol um artifício para inseri-lo na campanha presidencial de dezembro. A imprensa bateu muito, fez críticas severas. Mas encontrei no presidente todo o apoio que precisava. Fizemos várias reuniões e boa parte das pessoas queria que Eduardo saísse. Mas sabia que ele era competente, venceu a Copa Nordeste saindo do zero. Venceu o Estadual. E, além disso, não tinha conseguido colocar nas mãos dele todo elenco necessário. Ele chegou a ter 12 atletas no DM, seis titulares. Sempre acreditamos no talento dele. E outra: qualquer um que a gente trouxesse não faria nada diferente, muito pelo contrário: podia piorar por não conhecer o grupo. Nada mais lúcido do que mantê-lo. Nos apegamos ao planejamento.

Qual a importância de Eduardo nesse momento atual do Sport?
Evidentemente temos um projeto a ser desenvolvido. Veja que o Sport com Eduardo mudou a feição de como fazer o futebol. Nós estamos privilegiando a base, ele está formando os atletas, dando confiança aos meninos e tudo isso é o que a gente planejou. Quando Martorelli assumiu o clube, contratamos consultoria para planejamentos estratégicos e que nos ajudou a eleger pontos importantes para o futebol. Dentre eles, a base, a estrutura do CT, a chegada de atletas com experiência para uma mescla e Eduardo está fazendo isso para a gente. Ele está seguindo em sintonia o que pensa a direção e o que ele pensa.

Eduardo afirmou que, se depender dele, ficaria até pelo menos o fim do ano. O senhor já enxerga a possibilidade de ele ficar mais do que isso?
A nossa pretensão é de ter uma relação perene para desenvolver o projeto junto com Eduardo por um bom tempo. Vamos de ano em ano analisando. Um ano é um período razoável. Mas posso dizer que já estamos trabalhando, não negociando, com o pensamento de que ele fique muito mais  tempo que um ano apenas.