O autoproclamado "pacto pela paz alvirrubra" não durou dois meses. Apesar dos resultados dentro de campo começarem a melhorar na Série B, o ambiente no Náutico voltou a ser divergente entre as correntes políticas do clube. Alegando falta de autonomia para exercer a vice-presidência financeira, o próximo mandatário timbu, Edno Melo, entregou seu cargo. E carregou consigo o seu vice, Diógenes Braga, que estava compondo a diretoria de futebol. Ambos foram chamados para fazer parte da atual direção do clube, em uma espécie de co-gestão, no último dia 29 de junho, num evento que contou também com o atual presidente do executivo, Ivan Brondi, e do conselho deliberativo, Gustavo Ventura.
Na ocasião, a atual direção retirou a ação que movia na Justiça que poderia anular a eleição do dia 16 de julho, que aclamou Edno Melo e Diógenes Braga como presidente e vice do clube para o biênio 2018/2019. Vale lembrar que o pleito foi antecipado após decisão do Conselho Deliberativo, sob a alegação de que Ivan Brondi realizava uma "gestão temerária" à frente do Náutico. Na ocasião, o time era o lanterna da Série B com apenas dois pontos, a dez pontos do primeiro time fora da zona de rebaixamento. Hoje, a equipe, com três vitórias nos últimos quatro jogos, está na 19ª colocação e diminuiu a distância para sair do Z4 para seis pontos.
Em carta assinada pelos dois agora ex-diretores, a renúncia do cargo é colocada de forma condicional, só sendo efetivada caso o presidente Ivan Brondi não mudasse o atual cenário. Algo que o próprio Edno Melo acredita que não vai acontecer. "O que peço não é nem autonomia, é o básico. Hoje não tenho procuração para representar o Náutico junto a bancos e à Arena. E não acredito que isso será feito agora por causa de uma carta. Hoje estou fora", reclamou.
Já Diógenes Braga admitiu que vem conseguindo desempenhar o cargo de diretor de futebol sem maiores restrições. Porém a sua saída se dá em solidariedade ao companheiro de chapa. "No futebol tenho conseguido cumprir o meu cargo. Mas não tem sentido uma chapa onde estamos juntos eu continuar se o Edno está desprestigiado", alegou o futuro vice presidente timbu, que ainda cutucou.
"O que eu posso dizer é que na nossa gestão, as pessoas nomeadas terão autonomia para exercerem as funções das suas pastas", encerrou.
A reportagem tentou entrar em contato com o presidente do Náutico, Ivan Brondi, mas não obteve sucesso.
Confira a carta na íntegra
Confira a carta na íntegra
Recife, 21 de agosto de 2017
Exmo. Sr. Presidente Executivo do Clube Náutico Capibaribe,
Dr. Ivan Brondi
No dia 29/8, terça-feira próxima, estaremos completando 60 dias desde que, firmado o Pacto pela Paz no Náutico, assumimos, a convite da atual gestão, os cargos de Vice-Presidente Administrativo Financeiro e de Diretor de Futebol do nosso clube. É do conhecimento de todos os envolvidos neste entendimento que estas missões específicas, a nós demandadas, não faziam parte da nossa pauta, visto que dedicávamo-nos ao Conselho Deliberativo e, em particular, à Comissão Paritária, responsável pela fundamental campanha da volta aos Aflitos. Já ali, inclusive, havíamos apresentado à comunidade alvirrubra um novo projeto de gestão, diferente do atual, intitulado Resgate Alvirrubro e traduzido em um Plano de Metas. Fomos eleitos no pleito do último dia 16/7, mas este trabalho terá início efetivamente apenas em janeiro de 2018. No momento, estaríamos nos dedicando às tarefas citadas e ao planejamento do próximo biênio (o que efetivamente vem sendo executado por um grupo de alvirrubros, sob nossa coordenação).
No entanto, falou mais alto – como sempre – o desejo de colaborar com o Náutico, de unir forças para enfrentamento imediato da grave crise que o clube atravessa. Daí o convite aceito, sendo este, a partir de então, o nosso compromisso no acordo pactuado: exercer estas funções. Mas, buscando exemplo no esporte que nos deu origem, quando só uma metade do barco rema, ou se todos não o fazem em absoluta sintonia, dificilmente a equipe completará a prova, muito menos como vencedora. No nosso caso, ainda mais crítico, estamos em meio à travessia de uma tempestade. Nosso barco é o próprio Clube Náutico Capibaribe. E somos comandantes, presentes ou futuros, é fato, mas dentro da embarcação estão milhares de torcedores e mais de cem anos de história e de amor.
O senhor, estimado presidente Ivan Brondi, é um ilustríssimo representante deste legado, que merece o respeito e a confiança de todos os alvirrubros. E quis o destino que tivesse nas mãos um desafio de tal magnitude. Fazer o Náutico alcançar mais uma conquista, mesmo que seja colocar-se no prumo novamente e apontar para o futuro, ou naufragar, desta vez com remotas perspectivas de retomada, diante da gravidade do quadro que vive, hoje. Por tudo isso, pelo amor ao Náutico e pelo senso de responsabilidade que nos move, certos de que, dadas as condições (já acordadas entre nós), poderíamos contribuir, resolvemos apresentar um último apelo diretamente ao comandante executivo, compartilhando o mesmo com o exmo. sr. Presidente do Conselho Deliberativo do clube, Dr. Gustavo Ventura, partícipe do já referido pacto.
Em aproximadamente 60 dias, período que vamos completar brevemente, é mais do que possível observar imprescindíveis correções de rumo a adotar, financeira e administrativamente. Há procedimentos inadiáveis a implementar, sob risco de se deixar a instituição caminhar irremediavelmente para o caos e a insolvência. Muitos dos problemas são antigos, outros mais recentes, todos impondo ao nosso centenário clube o descrédito, a desorganização, a quase inviabilização, o afunilamento de prazos e possibilidades de reversão e, gradualmente, de recolocação do náutico no lugar merecido, localmente e nacionalmente. Não é justo com os alvirrubros, nem é aceitável.
Reafirmamos: por princípios éticos e morais, só entendemos um caminho possível a seguir: o da lisura, da transparência, do respeito aos colaboradores e aos integrantes da equipe, o trabalho que sirva ao Náutico, pois ele não sobreviverá caso, por descuido ou má-fé, tentem se servir dele, como parece já ter sido feito no passado. De nossa parte, só poderemos ser suporte para a presidência executiva, que, temos plena convicção, desconhece e não seria conivente com práticas equivocadas, caso sejam assegurados - de fato e de direito - os requisitos para tal. A confiança recíproca, portanto, atestada nos documentos que permitam ao vice-presidente administrativo-financeiro desempenhar o seu papel. Porque estão definidas e claras as atribuições. Falta poder exercê-las.
Reconhecidas e assinadas pela presidência executiva, e associadas a algumas medidas administrativas pontuais, renovarão nosso pacto e a nossa disposição para cumpri-lo exemplarmente, como rege nossa conduta pessoal e profissional. Caso não seja possível esta contrapartida, desde sempre pactuada, cuja ausência nos impede de realizar o trabalho necessário, reduzindo a tarefa à de um observador do cotidiano, restará a nós a alternativa de aceitarmos a realidade, devolvendo ao executivo, ao final dos 60 dias, os cargos apenas formalmente assumidos, mas com pouca resolutividade, pelas razões apresentadas, reassumindo os papeis no Conselho Deliberativo, na Comissão Paritária e dedicando ainda mais tempo ao planejamento do biênio 2018/2019.
Fique certo, senhor presidente, que esta nossa frustração seria reunida à preocupação que temos externado com a situação do nosso clube, que inquieta conselheiros, sócios, torcida e desportistas em geral. Não seria justo com a vitoriosa trajetória de um herói alvirrubro este peso a carregar, e por isso tantos clamam por providências. Se não for possível executar, desde já e dentro da gestão, os movimentos urgentes pela salvação do Clube Náutico Capibaribe, estaremos prontos a seguir na mesma luta em todas as instâncias possíveis. E no executivo, a partir de janeiro. Pelo bem do Náutico, por respeito e compromisso com a nação alvirrubra, ávida por boas notícias, merecedora há muito de novas alegrias. E de tudo o pudermos fazer, nós que nos propusemos a assumir a honrosa missão de representar milhares de pessoas e fazer da história, futuro.
Respeitosamente,
Edno Melo
Diógenes Braga