Futebol Nacional

VIOLÊNCIA NO FUTEBOL

Após governador cobrar atitude de clubes contra violência, dirigentes comentam declaração

Presidente do Sport, único a declarar guerra à torcida organizada, afirmou que clube é "referência" no estado e mostrou-se tranquilo por estar fazendo a sua parte

postado em 14/09/2016 21:13 / atualizado em 15/09/2016 10:29

Daniel Leal /Diario de Pernambuco , Alexandre Barbosa /Diario de Pernambuco

Karina Morais/Esp.DP
As cenas de violência em dias de jogos de futebol na Região Metropolitana do Recife (RMR) são recorrentes. No último domingo, antes do clássico entre Sport x Santa Cruz, mais terror foi espalhado nas ruas do Recife pelas Torcidas Organizadas. Problema que se tornou de segurança pública nos últimos anos, e que, nas palavras do governador do estado, Paulo Câmara, precisa de fato ser coibido... mas pelos clubes (leia a declaração na íntegra). Os presidentes de Náutico, Santa Cruz e Sport repercutiram a declaração do governador de Pernambuco com percepções parecidas - embora, na prática, as ações sejam distintas.

"Botar 400 homens num jogo chega a ser irracional em tempos de hoje. Não devia ter isso. Em outros locais do mundo a segurança dos estádios é feita pelos próprios organizadores do futebol", disse Câmara em declaração dada no Palácio do Campo das Princesas, durante uma coletiva na tarde desta quarta-feira, após o anúncio de uma fábrica no estado. "O estado tem se colocado à disposição, não tem se omitido da segurança dos estádios, dos jogos. Agora, é importante que quem faz futebol em Pernambuco tenha precaução e cuidado.", acrescentou o governador.

Mandatário interino alvirrubro, Ivan Brondi, acredita que o ideal seria buscar um "meio termo" entre obrigações do clube e do Estado. "Eu acho mesmo tem que ter, entre os três clubes, uma decisão para coibir esses abusos. Isso afasta público dos estádios, a família. É prejudicial para os três. Tem que acabar com isso, não sei como, nem o que podemos fazer com isso. Mas estudar uma maneira de eliminar o pessoal do futebol. O papel é do estado, a segurança é do estado, que tem que zelar pela segurança pública, mas o clube também tem que se dotar de meios para ajudar. Tem que haver um meio termo entre clube e Governo", afirmou.

Único clube a romper com Torcidas Organizadas, chegando a excluir membros da Torcida Jovem (a mais violenta) do quadro de sócios rubro-negro, o presidente do Sport, João Humberto Martorelli, sugeriu uma contrapartida do Governo do Estado. Segundo o mandatário, faltam novos artefatos jurídicos para que outros clubes sigam os passos do Leão e ajudem a enfraquecer o que ele classifica como "bandidagem".

"Não é responsabilidade dos clubes, mas os clubes têm responsabilidade de combater essas organizadas violentas. O clube tem que dizer que não compactua, que repudia essas organizadas. Isso é bandidagem, tem que romper. Vão entender que não têm o apoio que tiveram no passado. Se tivessem sido coibidas na origem, talvez não tivessem chegado onde chegaram. Concordo que existe uma parte disso tudo que precisa da ajuda do clube", afirmou, inicialmente, Martorelli.

"O Sport é uma referência, rompeu com a organizada. Hoje não tem violência dentro do estádio, mas fora do estádio, sim. E fora é problema de segurança pública. O Sport fez sua parte", disse, emendando com uma sugestão. "O governador poderia pegar os parlamentares e tentar viabilizar um Projeto de Lei para que o clube que tivesse relação com organizada devesse ser penalizado, a exemplo do que aconteceu com os clubes ingleses que se relacionavam com os hooligans", pontuou.

Santa Cruz

O presidente do Santa Cruz, Alírio Moraes, optou por comentar as declarações do governador através de uma nota oficial. No documento, ele também acredita que o clube pode ajudar na coibição da violência - embora, na prática, o Tricolor mantenha relação com a Inferno Coral. "Caracterizar os atos violentos que ocorrem entre integrantes de torcidas organizadas como 'violência do futebol' não retrata a realidade. Esta é, na verdade, a violência da sociedade, que se reflete no ambiente do futebol. Os clubes não tem poder de polícia, porém tem a responsabilidade de colaborar e contribuir com o trabalho das instituições que exercem esse poder. É isso que o Santa Cruz Futebol Clube faz desde o ano passado", disse o mandatário tricolor.

FPF

O presidente da Federação Pernambucana de Futebol (FPF), Evandro Carvalho, evitou polêmicas e tentou justificar a linha de raciocínio de Paulo Câmara. "Todos nós esperamos mais de todo mundo. Inclusive de nós mesmos, porque todos temos um compromisso de contribuir para a segurança pública. O que ele (o governador) quis dizer foi que espera ações que contribuam para a conscientização do público. Acho que é uma questão de segurança, de toda a sociedade, do clube, da federação. Todos nós temos que estar contra a marginalidade. A gente podia não fazer nada, dizer que é uma questão de segurança pública. Mas nós aqui achamos que é o nosso dever, cívico, enquanto agentes de formação de cidadania, é nosso dever contribuir. Mesmo não sendo, nos colocamos", afirmou.