Futebol Nacional

DESCASO

O descaso segue em Olinda: Estádio Grito da República, mais de três anos de atraso e contando

Superesportes revisitou as obras e encontrou um estado de semi-abandono

postado em 17/04/2016 15:30 / atualizado em 17/04/2016 17:33

Emanuel Leite Jr. /Especial para o Diario

Ricardo Fernandes/DP
Reza a lenda que Duarte Coelho, ao subir a colina onde hoje fica o sitio histórico de Olinda, teria dito uma frase que daria origem ao nome da cidade: “Ó linda situação para se construir uma vila.” Duarte Coelho tinha razão. Afinal, não demorou muito para que seu povoado se tornasse vila e um dos principais centros comerciais do Brasil colônia. O que o fidalgo português jamais poderia imaginar na distante década de 1530 é que em tão linda situação para se construir uma vila pudesse, já em pleno século 21, ser tão difícil a construção de um estádio de futebol.


E não estamos falando de um mega estádio moderno, dentro dos padrões de comodidade estabelecidos para praças esportivas deste segundo milênio. Mas sim de um pequeno campo, com capacidade para não mais que 15 mil pessoas e sem cadeiras - todo no cimento, como no século passado. Mesmo assim, o Grito da República - não aquele proferido em 10 de novembro de 1710 -, mas o localizado no bairro de Rio Doce, segue engasgado e sem prazo para ser inaugurado - o primeiro prazo foi dezembro de 2012.

Na última segunda-feira, 11, completaram-se exatos dois anos da publicação de um vídeo por parte da Prefeitura de Olinda, no qual o prefeito Renildo Calheiros (PCdoB) afirmava que queria ver no Natal de 2014 “as arquibancadas lotadas com crianças das nossas escolas e o helicóptero descer com o Papai Noel”. Passados dois anos, a promessa segue longe de ser cumprida. A reportagem do Superesportes voltou a visitar as obras do estádio na terça-feira, 12. Esta é mais uma das visitas feitas desde quando as obras estavam paralisadas e o esqueleto do estádio abandonado à própria sorte, lá em 2013 - altura em que as autoridades públicas olindenses ainda dizia que iria liberar o Grito da República a tempo da Copa do Mundo.

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O intuito de mais uma ida às obras do estádio era ver a evolução da construção, a fim de conferir se, pelo menos, algum daqueles prazos estabelecidos (e descumpridos, evidentemente) ao longo de todo o ano de 2015 fora executado. Em agosto do ano passado, em entrevista ao Superesportes, o secretário executivo de obras do município, João Batista, havia “ratificado”, em tom de mais uma promessa, que o estádio ficaria pronto até o fim daquele ano. “A nossa meta é, até o fim do ano, estar com o estádio concluído”, assegurara. Compromisso público não realizado, já que em novembro nenhum dos prazos fora efetuado e, na ocasião, a Prefeitura se recusou a estabelecer um novo cronograma para as obras.

Como está hoje
O cenário em abril de 2016 chega a ser desolador. Nenhuma das etapas essenciais para a conclusão da construção do estádio, como a colocação do gramado, instalação da cobertura da arquibancada central e a instalação dos postes de iluminação e refletores, está concluída. No lugar onde já deveria haver um belo campo gramado, o pouco verde que se vê é do mato que começa a voltar a tomar conta do terreno. A arquibancada central continua descoberta, o que faz com que os espaços onde um dia deverão ser as tribunas de imprensa se tornem potenciais nascedouros de mosquitos, já que, por conta das chuvas, vão acumulando água - com bastante lodo, por sinal. Para os postes que em alguma ocasião hão de servir de apoio para a iluminação da praça esportiva, nem sinal das fundações.

Em março do ano passado, altura em que 42 funcionários trabalhavam na construção, o engenheiro responsável pela obra admitiu que se tratava de um efetivo baixo se a intenção era de inaugurar o estádio dentro do prazo na ocasião (agosto/setembro). No dia em que a reportagem esteve no local, 12 de abril de 2016, não havia mais de 10 operários. Nenhum deles abordou o repórter, que trafegou por toda a área sem qualquer objeção. Não apenas a reportagem, por sinal. Jovens entraram nas obras e subiram até o local onde deverá ser instalada a cobertura da arquibancada central. Brincaram no alto da arquibancada. Arriscaram-se. Sem que fossem importunados.

Ao fim da tarde, depois que os poucos operários haviam largado e quando a penumbra começava a tomar conta do ambiente e uma única lâmpada de refletor “iluminava” o “estádio”, os únicos seres vivos que a reportagem encontrou no local - para além das crianças que se divertiam - foram as cabras que aproveitavam para se alimentar do mato que cresce na área onde deverá ser um campinho no exterior do estádio e duas simpáticas cadelas, que, aparentemente, eram as únicas responsáveis pela vigilância da obra.

Evolução mínima
Seria injusto dizer que nada foi feito nos últimos meses. Embora a entrada por trás de uma das arquibancadas siga sem muro, permitindo que qualquer pessoa entre na obra, já é possível ver que houve o calçamento de uma parte do piso que margeia o canal (este, a propósito, segue sujo como sempre). A entrada do estádio também já começou a ganhar calçamento. Pouco, porém, para um estádio que já deveria estar inaugurado. Há anos.

Sem resposta
A reportagem fez contato com a assessoria de comunicação da Prefeitura de Olinda na segunda-feira, 11 de abril. Na terça-feira, a assessoria pediu ao repórter que enviasse a demanda por email. Foram enviadas as perguntas da entrevista. Na quarta-feira, após cobrança por parte da reportagem, a assessoria informou que seguia à esperada resposta por parte da Secretaria de Obras do município. Já na quinta-feira, o repórter recordou que o fechamento da matéria seria naquele dia. Entretanto, até às 17h da sexta-feira, a Prefeitura de Olinda não se dignou a esclarecer as diversas dúvidas que pairam sobre as obras que consomem mais de R$ 10 milhões saídos de cofres públicos - federal e municipal.

As queixas de costume
Não é difícil encontrar um cidadão da região que não esteja insatisfeito com a obra. Em todas as visitas que o Superesportes fez ao local, sempre ouviu as mais diversas queixas dos habitantes do entorno do Grito da República. Na última terça-feira, a reportagem ouviu o servidor público Moisés Ramos, 40 anos. Morador da área há cerca de 30 anos, ele acompanhou de perto - tem sofrido com isso - todo o processo de construção do estádio.

Desde os problemas iniciais da construção, passando pelos transtornos do período em que a obra esteve abandonada (como a fragilidade da segurança pública), até os inconvenientes que persistem. Por exemplo, o mau cheiro do lixo que ocupa o cenário por trás do estádio, tomando o canal na avenida México. E a falta de um muro fechando o interior das arquibancadas, o que permite que usuários e traficantes de drogas sigam utilizando o local, bem como ainda exista a prática de atos libidinosos. Moisés Ramos viu de tudo.

“Isso aí não tem serventia nenhuma”, disparou. “Ao invés de melhorar, só piorou a situação. Aqui, pelo menos, servia para a diversão da comunidade”, disse, recordando os tempos em que o terreno era utilizado como espaço de entretenimento pelos moradores do entorno. “Hoje em dia só serve para quem quer usar drogas. De vez em quando a polícia corre atrás de uns bandidos. Mas só de vez em quando mesmo”, acrescentou.

Moisés é mais um dos que se mostram incrédulos quanto à conclusão da obra - como muitos outros cidadãos ouvidos pelo Superesportes em ocasiões anteriores. Para ele, entretanto, só um detalhe pode fazer com que a construção, finalmente, seja concluída. “Vem eleição aí, né? Talvez eles apressem as coisas.”

CUSTOS

R$ 7,1 milhões
custo estimado em 2008

R$ 10.545.712,63
custo total estimado até maio de 2015

R$ 10.415.468,95
custo total atualizado em agosto de 2015

R$ 7,3 milhões
a cargo do governo federal, através do Ministério do Esporte

R$ 3.115.468,95
contrapartida do município de Olinda

Os prazos stourados

MARÇO 2015

agosto/setembro
inauguração do estádio

MAIO 2015

fim de setembro
inauguração do estádio

AGOSTO 2015

fim de outubro
colocação do gramado

a partir de setembro
vai ser iniciada a instalação da cobertura da arquibancada central

fim de novembro
instalação dos postes de iluminação e refletores

20/25 de dezembro
inauguração do estádio

NOVEMBRO 2015
Por email, a Secretaria de Comunicação de Olinda não informou o novo prazo para a conclusão da obra.

ABRIL 2016
Até o fechamento da edição, na última sexta-feira, a Prefeitura de Olinda sequer respondeu aos questionamentos da reportagem.