NÁUTICO
Inspiração na NBA, bastidores do Náutico e vida no futebol: 'Lisca Doido' em entrevista exclusiva
Técnico também comentou sobre algumas polêmicas em que se envolveu no Recife
postado em 25/05/2015 08:00 / atualizado em 25/05/2015 14:30
O Náutico não teve folga neste fim de semana. Consequentemente o seu treinador. Mas isso é normal para Lisca. Quando está acordado, praticamente pensa em futebol 24 horas por dia. O trabalho é a continuação de um hobby. Porém, seu ídolo e “mentor” não foi técnico do esporte que ele respira para viver. Fã de Phil Jackson, treinador campeão 11 vezes na NBA, Luiz Carlos Cirne Lima de Lorenzi revelou muito mais do que espera realizar no Náutico. O técnico contou o que realmente aconteceu para ter saído do clube em 2014, falou sua relação com a direção alvirrubra, comentou sua rivalidade com Neto Baiano e afirmou que dificilmente deixa o Timbu em 2015. Isso só ocorre em caso da Seleção Brasileira ou o Internacional desejarem os serviços do "Doido da Arena Pernambuco".
O que mudou do Lisca que passou pelo Náutico em 2014 e este de 2015?
Muitas histórias que aconteciam e muitas situações que colocavam na conta do Lisca e, na verdade, não eram. Eram decisões da diretoria. Só que às vezes é difícil assumir a responsabilidade. Muitas coisas caíam para mim e algumas informações negativas que não condiziam com a verdade e eu terminava retrucando. Esse ano eu não procuro me envolver com isso. Procuro não ler jornais. Leio mais os sites, eu confesso. Mas procuro não ouvir nada da imprensa. Minha relação com os funcionários é ótima, mas, ano passado, também teve um erro de comunicação, pois o gerente de futebol e os diretores pediram para eu trazer minha comissão técnica. Cheguei aqui e o clube já tinha uma comissão competente. Foi um erro de comunicação. Terminei liberando minha comissão e avisei quando sai que se voltasse um dia eu viria sozinho. Temos uma linha de pensamento muito parecida e o entrosamento é ótimo com eles e fazem o trabalho corretamente.
Então, essa história de desentendimento com Kuki nunca existiu?
Nunca houve. De modo algum. Kuki é gaúcho como eu e nos entendemos muito bem. Talvez seja um dos meus maiores incentivadores aqui. Quando falaram que eu estava voltando e ele seria contra meu retorno, ele prontamente negou. Nos falamos pelo telefone algumas vezes sobre isso. Ele é uma figura do Náutico e me apoia muito no dia a dia.
O que aconteceu nestes quase cinco meses em que você ficou sem clube? O que o Lisca fez nesse período?
Descansei muito. Peguei um verão com minha família, coisa que não fazia há muito tempo. Também fiquei com meu pai. Assisti a muito jogo. Recebi até algumas propostas para o Estadual no Rio Grande do Sul, mas preferi descansar e olhar de fora. É diferente. Estudei, olhei jogo e observei jogadores. Minha ideia era trabalhar na Série B ou Série A, mas como surgiu o Náutico e existiu uma convocação da torcida, eu fiquei muito feliz de poder voltar.
Quando você chegou, como estava o ambiente? O que era mais desafiador?
O mais difícil era retomar a confiança. Em todas as reuniões que eu abria para eles falarem, o que mais se falava era em confiança. Depois daquelas vitórias contra o Moto e Serra Talhada demos uma respirada. Mas tivemos uma série de lesões que nos atrapalharam muito. Ano passado também essas lesões ocorreram e nos atrapalharam, ainda mais porque tínhamos que montar um grupo em cima da hora.
O que existe de diferente do grupo do ano passado para este?
Não tínhamos jogadores que pudéssemos contratar que já estivessem em ritmo de jogo. Ano passado, estava fazendo esse mesmo processo de montagem do time para Série B com a chegada do Douglas, do Paulinho, do Vinícius. Estávamos trazendo jogadores para o Brasileiro em ritmo de competição. Esse ano, apesar da correria, conseguimos fazer isso e trouxemos o Rogério, o Fabiano, o Ronaldo, o Hiltinho. Jogadores que fizeram ótimos estaduais. Nosso grande erro no ano passado foi a relação com os jogadores. Deveríamos ter feito contrato de risco, de três meses. Mas isso não era da minha alçada e a diretoria passada não discutia isso comigo. Esse ano é exatamente o contrário. Eu sei tudo e posso opinar. Esse ano, eu opino e posso decidir junto.
A recente divulgação da folha salarial da equipe atrapalha?
Não atrapalha. É um gasto relativo, porque tem jogador que está nessa folha e nem está mais no time. Essa diretoria também quer fazer diferente. Não quer mandar embora e manda os jogadores procurarem os direitos. Depois, isso estoura lá na frente.
Você acha que se tivesse continuado em 2014 poderia ter feito um bom trabalho, com esse novo formato de relação com a diretoria, e ter conseguido o acesso?
Acho difícil, porque teríamos que tirar muito jogadores que trabalharam conosco no começo do ano. Alguns eu até concordava, mas ficaria muito ruim para mim. Porque os jogadores sairiam sem nenhuma compensação financeira e teriam que ficar treinando em separado e eu não concordei com isso. Conversei até com o presidente Glauber (Vasconcelos) e ele disse que, quem estivesse incomodando sairia, e eu ficaria. Disse que era melhor não porque eu ficaria com a pecha de traíra. Preferi sair para voltar em uma situação diferente como estou fazendo agora.
Bateu um arrependimento depois?
Não me arrependi. Fiquei triste porque tive que largar um lugar que eu gosto e que tinha boas perspectivas. Sabia que era melhor dar três passos atrás para depois da um passo a frente. Ainda tinha uma boa relação com a diretoria e preferi manter assim. Utilizei aquele ditado que os incomodados que se mudem e, como eu estava bastante incomodado, eu preferi sair.
Quem cobre o dia a dia do Náutico sabe o quanto você trabalha e se dedica a estudar o futebol. Nas coletivas você já sabe a escalação do adversário, já sabe quais são os principais jogadores. Tem como descrever um pouco da sua rotina e como você estuda os adversários?
Sou professor de educação física, fiz esporte minha vida toda e joguei futebol nos juniores do Inter. Agora minha profissão é ser treinador de futebol. Comecei em 1991. Passei por todas as categorias do Inter e pude trabalhar com vários jogadores de qualidade. Alexandre Pato, Fábio Rochemback, Rafael Sóbis, Nilmar, Luiz Adriano, Lúcio. Foram vários jogadores que pude ajudar. Minha vida é futebol e tenho que conhecer meu adversário. Observo a reação dos treinadores, o esquema tático, como eles marcam. Os adversário eu vejo quando posso, mas o Thiago (Alves, analista de desempenho), sempre me passa as informações bem mastigadas, me passa o compacto e ainda assisto o jogo todo para fazer as minhas observações. Depois me reúno com os jogadores e fazemos quase um simpósio para ver a melhor forma de enfrentar. Mas futebol é um jogo. Por isso às vezes fechamos um treino para ter alguma surpresa. Se eu tenho variações na forma de atuar podemos confundir o adversário e é sempre bom deixar uma dúvida na cabeça de quem está do outro lado.
Quanto tempo dorme nessa rotina?
Eu durmo pouco mesmo. Tem jogo todo dia, menos na segunda. Termina que na segunda eu assisto uma novela (risos). Mas vejo jogos aqui no intervalo (dos treinos) e ontem (última quinta-feira) assisti o Inter, o Cruzeiro. Vi um pouco do Sport. Procuro também não mudar muito de jogo. Vejo 20, 30 minutos pelo menos. Identifico o sistema, a marcação e faço algumas anotações. Terminou que o hobby virou trabalho.
No fim contas, assiste a quantos jogos por semana?
Devo ver uns seis, sete jogos por semana. Sem falar nos nossos.
Você sempre fala em trabalho a longo prazo, mas em dezembro teremos eleições no clube e não há garantia que esta gestão tenha continuidade. O afastamento de Glauber Vasconcelos terminou acalmando os bastidores do clube?
Eu procuro não me envolver com política. Sei que teremos um processo no Náutico. Tenho uma ótima relação com o presidente e sou eternamente grato pela oportunidade que ele e essa diretoria me deram ano passado e esse ano também, mas isso não cabe a mim. Tenho que me concentrar no campo e, quanto eu menos me envolver, melhor. Nosso ambiente hoje é muito bom e tranquilo. Temos um bom respaldo da diretoria e o presidente às vezes aparece no CT, o (Gustavo) Ventura também e fala com a gente. O que eu gostaria é que todo mundo visasse ao bem do Náutico. Conheço o pessoal da oposição. Conheço o Berillo, Paulo Wanderley, Paulo Pontes, Alexandre Homem de Mello, Gustavo Krause. Doutor Américo (Pereira) eu ainda quero conhecer pessoalmente, mas sei que são todos grandes alvirrubros e o que eu apenas peço é apoio incondicional ao clube neste momento.
Garantindo o acesso você acha que o seu posto está garantido?
Não me preocupo com isso. Não me apego a emprego. As coisas que têm acontecido para mim tem sido boas. Hoje posso optar pelo o que eu quero. Tenho que ir para um lugar que faça minha cabeça e que faça meus olhos brilharem. Gosto muito do Náutico, mas, no dia que o clube achar que eu não sirvo mais, eu pego minhas coisas e vou embora. Se eu também sentir que não sirvo mais para o clube, como o ano passado, também vou embora. Já recebi alguns convites desde que cheguei. Depois desse jogo com o Criciúma, eu recebi um convite da Série B e uma sondagem da Série A, que não foi do Grêmio. Estou bem tranquilo quanto a isso.
Teria alguma proposta que te tiraria do Náutico?
Só aquela proposta irrecusável. Uma grande oportunidade de trabalho ou que fosse uma compensação financeira muito grande. Não penso em sair do Náutico. Ajudei a montar o time e tenho um compromisso com a direção, com os jogadores, com a comissão. Também tem a relação com a torcida que é fantástica. Eles gritam meu nome e me apoiam muito e isso você não conquista de uma hora para a outra. Sair hoje só se a Seleção Brasileira me chamasse (risos).
E comandar o Inter? É teu sonho?
O Inter é onde eu comecei e tenho o sonho de trabalhar em um grande time da Série A. Trabalhar em algum dos times da tua cidade é um dos grande objetivos da minha carreira, mas ainda falta muito chão. Se eu conseguir o acesso, sei que as portas se abrirão para mim não só aqui no Náutico, mas em outros clubes.
Qual é a maior rivalidade: Inter x Grêmio ou Náutico x Sport?
Inter e Grêmio com certeza. A rivalidade é enorme. Acho que é maior porque aqui temos três clubes. Lá só são dois. Não tem muito meio termo. Lá ou você é azul ou é vermelho. Aqui também a torcida do Santa Cruz simpatiza com a do Náutico e a do Náutico simpatiza com a do Santa, mas ninguém simpatiza com a do Sport. A rivalidade maior é contra o Sport. Ano passado, o Santa até treinou nos Aflitos. É uma relação legal. Aqui, as torcidas me tratam bem. Essa semana até três torcedores do Sport, fardados, vieram falar comigo e elogiar meu trabalho. Aqui também é muito legal. No Rio Grande do Sul, joguei Grenal em todas as categorias, mas, quando trabalhei no Grêmio, não joguei. Mas rivalidade em todo canto é legal.
Por falar em rivalidade, você criou uma grande com o Neto Baiano, mas você falou que um dia poderia trabalhar com ele. Já imaginou se ele rompe o contrato com o Criciúma e te liga dizendo que queria vir para o Náutico trabalhar contigo? Isso poderia ocorrer? Você acha que a torcida aceitaria?
Isso é mais complexo. Depende da diretoria, depende do orçamento, mas acho essa situação hoje impossível. O Neto chegou há pouco tempo no Criciúma e está buscando seu espaço. A rivalidade existe e ficou uma brincadeira no fim. Vocês (imprensa) fomentam muito isso e eu tentei evitar. Mas terminou acontecendo. No fim do jogo (contra o Criciúma), eu dancei ali e fiz uma brincadeira, mas é só isso. O Neto quando fala do Náutico nos chama de barbie, diz que é freguesia. É a maneira dele proceder, mas não vamos deixar sem resposta. O Náutico tem que buscar o seu respeito de volta e se tem porrada, tem porrada. Se tem brincadeira, tem brincadeira. Se tem carinho, tem carinho. O Neto é comentado até na minha casa. Minha filha chama ele de "Neta Baiana" e ele me chama de "Odalisca Doida". Mas virou um personagem lá em casa e falamos dele com carinho. Minha filha acompanha ele e gosta dele. Acompanhou ele no Sport, no Vitória e, quando soube que iríamos jogar contra o Criciúma, me falou logo que era contra ele. Se alguém escuta eu falando isso só não entenderia, mas o Neto é falado dentro da minha casa por ser um cara que mexe com o ambiente, que promove o jogo e hoje eu digo que existe um carinho meu e da minha família com ele. Resolvi também entrar na onda dele. Acho que é basicamente isso. Foi uma brincadeira ali com o torcedor que, com certeza, queria aquilo e, quem estava do ano passado mesmo, era eu. Antes do jogo, falei com o Neto, cumprimentei ele e até falei que um dia a gente trabalharia junto. Já imaginou dois doidos trabalhando juntos? Ou daria muito certo ou daria uma confusão danada. Mas acho que Neto se encaixaria muito bem no meu modelo de jogo. Mas foi isso. Mergulhei na brincadeira, que foi sadia e sem violência.
Na partida contra o Luverdense um detalhe passou despercebido. O quarto árbitro foi Gleydson Leite, que você “elogiou” demais após aquela derrota contra o Salgueiro, quando um pênalti do Náutico foi anulado. Você chegou a falar algo com ele?
Falei com ele no vestiário e nem sei se ele foi para me provocar. Achei estranho por ser o primeiro jogo, mas passou. Para mim, ele errou ali (contra o Salgueiro). Não tem como voltar atrás. Eu o cumprimentei normalmente, não toquei no assunto e ele também não. Vamos nos cruzar novamente e vida que segue.
Sabemos que existem dois Liscas. O que dentro de campo trabalha sério, cobra os jogadores e grita. Mas também tem o Lisca que brinca na entrevista, que dança no fim do jogo. Te preocupa que o Lisca brincalhão atrapalhe ou se confunda com o Lisca técnico? Ou que até crie problemas dentro do elenco?
Com esse grupo, não. Ano passado, tivemos uma coisa ou outra com jogadores que chegaram e não entendiam isso. Esse grupo sabe que o torcedor grita “Lisca Doido” aprovando o trabalho não só meu, mas o do time. Eles estão dando apoio aos jogadores e ao seu comandante. Sou apenas o representante e eles sabem que isso é importante para trazer o torcedor de volta. Acho que isso pode me prejudicar na questão de mercado. Saiu no Rio Grande do Sul e em vários estados a brincadeira com o Neto, mas cada um da sua forma. Em São Paulo e lá (RS) colocaram como brincadeira, mas teve gente aqui que colocou como desnecessário, palhaçada. Isso também é uma coisa minha com a torcida. Uma relação adquirida pelos dois lados. Pode ser que cause ciúmes em muita gente, por ver o treinador seu nome gritado. Eu não esquento muito com isso, mas acho que às vezes atrapalhe. Mas é meu jeito.
O futebol precisa de mais Liscas Doidos?
Muitas vezes precisa mais de se aproveitar. Eu tenho essa relação com a torcida e o torcedor do Náutico está muito sofrido. Está muito desacreditado. O torcedor do Náutico tem vergonha de colocar a camisa e ir para a Arena torcer. Ele olha para trás e lembra do passado. Eu vivi essa mesma experiência com o Juventude, em dimensão menor. Eu procuro puxar esse processo de mostrar ao torcedor a alegria de estar ali. De jogar na arena, de participar, de vencer, das pequenas conquistas. Estou tentando regastar o torcedor. A imprensa vem e, com razão, faz pauta negativa porque tem problema, tem derrota, não conquista título há tanto tempo. O torcedor fica louco. Daqui a pouco ele vê esse doido aí e pensa: Quem sabe o time vai bem com ele?. Por isso faço isso.
Você nunca comandou um jogo nos Aflitos, mas existe essa vontade? Já conversou com a diretoria sobre isso?
Eu gosto muito da Arena. Sei que o torcedor não gosta, mas nós profissionais gostamos muito da estrutura. Sei que tem essa mística com o estádio. É dentro do bairro e isso faz diferença. Nunca vi um jogo lá, mas já vi pela televisão que era complicado vencer o Náutico ali. Seria legal ter um jogo lá, mas teríamos que melhorar a estrutura. Poderíamos arrumar a casa ali e transformar uma mini Bombonera para nós, pois sei que é muito difícil vencer o Náutico ali.
Na sua primeira passagem, a família veio toda e agora você está sozinho no Recife. Por quê?
Só não trouxe por causa da escola das minhas filhas. Elas estão no meio do semestre e preferimos deixarmos elas terminarem e depois voltarem para cá. Ano passado elas tiverem um pouco de dificuldade na adaptação e agora temos que ter um pouco mais de calma. Mas elas estão loucas para vir.
Quem é sua referência como treinador?
Difícil. São vários. Procuro ter meu jeito, mas gosto muito do Tite. Não o jeito, mas a metodologia. Sou mais paixão. Não sou preparado como ele. O Abel também. Gosto do modo que ele administra. Porque o treinador tem que administrar relação com imprensa, diretoria e elenco. É complicado e o Abel faz isso muito bem. A nível internacional eu gosto do Mourinho, do Guardiola. Gosto do Marcelo Bielsa também. São treinadores que tem metodologias diferentes e isso não é valorizado no Brasil. Isso tem que ser revisto aqui e também a avaliação do treinador também tem que ser revista.
E no futebol, o que te inspira?
O jogo coletivo. Jogadores pensando juntos, com a bola, sem a bola, marcação zona. O Náutico é um dos poucos times do Brasil que utiliza a marcação zona. No Brasil a referência de marcação ainda é muito o jogador e não fazemos mais isso. É um tipo de marcação que nos desgasta menos. Eles não vão nos levar para onde eles querem. Nós que vamos para onde queremos. Vê um time assim é o que me motiva.
Tem algum livro que você indicaria para o torcedor entender um pouco mais do modo que você pensa o futebol?
Sobre a marcação em zona tem um livro do Nuno Amieiro (Defesa à Zona no Futebol), que fez uma tese sobre esse tipo de marcação para a Universidade do Porto. Ele entrevistou vários treinadores sobre conceitos de defesa. É um livro que eu dei até para o Tite. Outro livro que é uma das minha bíblias é o 120 jogos de ataque e defesa, que foi presente do meu pai. Minhas outras bíblias de cabeceira, que são mais sobre gestão, são os livros do Phil Jackson, técnico da NBA (Cestas Sagradas e 11 anéis). É um cara que eu admiro muito e que, apesar de estar longe, é minha referência. Ele fala muito sobre relação, compaixão, espiritualismo. Ele fala sobre como unir um time, que apesar de estar em um esporte que é coletivo valoriza e premia o individualismo. Ele tem um sistema ofensivo, o triângulo ofensivo, que eu tento introduzir no futebol. O Jogador tem a leitura e o jogador cria de acordo com o espaço que o adversário lhe dar. Não tem uma jogada previamente definida. Mas o que mais me impressiona nele é o poder da mente que ele tem. Em sabe trabalhar isso com os atletas. Um dia eu ainda vou meditar com meus atletas como ele fazia com os deles. Ele também trabalha muito com filmes, livros. O que também me impressiona é que ele trabalhou com Michael Jordan e Kobe Bryant e fez essas estrelas jogarem para o time. Ele fala que a maior qualidade de um craque é fazer quem está a sua volta melhorar. Esses livros eu já li umas seis, sete vezes.
Tem algum outro esporte que você se inspira?
Futebol americano é interessante, pois é um esporte de penetração e preenchimento de espaço, mas é jogado com as mãos. O futsal também. As quinas ofensivas do PC (de Oliveira, técnico da Seleção Brasileira de Futsal) é muito parecido com o triângulo ofensivo do Phil Jackson. Parece um balé. Conversei com ele uma vez e ele me falou que tira muita coisa do futebol americano. O esporte coletivo hoje mudou. A velocidade é outra. No vôlei então nem se fala. Eram poucas combinações ofensivas e o levantador não tem mais uma bola lenta. No futebol não é diferente.
Você sempre trabalhou muito com a base em outros clubes e nos treinos vemos que você cobra muito mais dos mais jovens. Em um dos treinos você fez o meia Igor Neves repetir um cruzamento quatro vezes até acertar. O que o torcedor alvirrubro pode esperar de bons frutos na próxima safra de atletas formados no clube?
Acho que vamos ter coisas boas. Já tivemos o Douglas Santos e o Marcos Vinícius. Temos uma boa dupla na zaga com o Diego e o Flávio que acho que serão grandes zagueiros. Temos o Piauí que vem crescendo. O Renato esse ano cresceu demais. Está pagando o preço da preparação, que eu não vi ano passado, e está cada vez tá melhor. O Jefferson Nem também promete muito pois é um atacante forte, não alto, mas moderno. Estilo Cabañas. É um jogador de mobilidade e força. Tem alguns nos juniores também. Eu procuro dar atenção aos jogadores que não estão jogando e aos jovens mais ainda.